Categoria: Vivências Page 5 of 6

Susto em Ravenscraig e o Mauthe Doog

Outubro, mês de Halloween e de contar “causos” misteriosos. 👀

Este aconteceu comigo e com o Pedro, meu filhinho, nas ruínas do castelo Ravenscraig. Construído em 1460, este castelo é relativamente pequeno, e fica estrategicamente localizado no alto de um penhasco, de frente para o estuário de Forth. Nós já havíamos estado lá antes, mas desta vez voltamos com a minha mãe. O dia estava frio, nublado, e sem vento. 

O espaço das ruínas deste castelo basicamente se divide em duas partes: a torre principal e a parte aberta, onde antes ficavam construções térreas e onde o muro circunda a pequena parte do penhasco. Minha mãe estava nesta última parte, batendo fotos da vista para o mar, e eu estava seguindo o Pedro, que na época tinha 4 anos, pela parte ao redor da torre. Não há como entrar em lugar algum nesse castelo. Todos os acessos para o interior da torre estão fechados com grades, por segurança. 

O Pedro estava brincando de “eco”: ele parava em frente a uma porta dessas, fechada com grade, gritava “Helloo!!” e escutava o eco da voz. Fez isso em uma porta, em duas, e paramos em frente da terceira. Tudo escuro lá dentro, mas parecia ter um corredor ao fundo, à direita. Continuando a brincadeira, ele gritou “Hellooo!!!”

E o que ocorreu a seguir foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceu.

Fantasmas no Castelo de Aberdour

*História real! Conversei com um dos envolvidos.

Isso aconteceu antes das filmagens de Outlander, onde o Castelo de Aberdour foi utilizado como sendo o monastério beneditino de Ste Anne de Beaupre.

Há alguns anos, no inverno, muito cedo de manhã, um grupo de pedreiros chegava para trabalhar em alguns consertos que estavam sendo feitos no Castelo de Aberdour. As temperaturas estavam abaixo de zero, começava a nevar, e a única pessoa com a chave necessária para acessar a parte do castelo que estava em reforma estava atrasada.

Eles então se abrigaram do frio nos estábulos, que ficam no andar térreo do castelo, logo na entrada, e esperaram, conversando sobre o tempo e sobre os serviços que fariam no dia.

Estábulos

De repente, a conversa silenciou.

Singela lista de coisas que tem aos montes no Brasil mas que nunca vi aqui:

Além de “sol e calor”, obviamente. 😅

  • Restaurante a quilo;
  • Motoboy (aliás, motos são raras de se ver);
  • Acostamento (existem espaços de paradas ao longo da rodovia, mas não acostamento);
  • Ultrapassagens pelo acostamento (isso dava muita raiva);
  • Gatos e cachorros de rua (existem sim bichinhos abandonados, mas são todos recolhidos, não se vê nenhum solto andando pelas ruas);
  • Pet shop vendendo gatos e cachorros (aqui é bem regulamentado, só criadores podem vender. Mesmo assim, existe contrabando e imensas maldades com animais, mas não podem ser vendidos em lojas);
  • Babás com uniformes (sabe aquelas madames que fazem as babás usarem uniforme branco o tempo todo? Impensável por aqui);
  • Estudantes de medicina, odonto, enfermagem, nutrição e etcs desfilando pela rua de jaleco (sabe esses também? Igualmente impensável);
  • Centro espírita, terreiro de umbanda, igrejas evangélicas (Church of Scotland de balde, algumas igrejas católicas perdidas aqui e ali, uma e outra Testemunha de Jeová, e um Centro de Cientologia em Edimburgo)
  • Carros com porta-malas aberto e som a todo volume em praças, postos de gasolina, praias, etc (Impensável também)
  • Vendas de catálogo em casa tipo Avon, Natura, Hinode e afins;
  • Síndico de prédio (os prédios aqui não possuem síndico e nem condomínio. A organização é meio anárquica/societal….quando algo precisa de conserto, algum morador toma a frente e organiza uma vaquinha… sem crises, geralmente);
  • Reunião de condomínio (vide acima);
  • Porteiros em prédios;
  • Guardas em casas;
  • Vigias nas ruas;
  • Muros altos nas casas (a maioria tem muros baixos. Quando possuem muros altos, é por algum motivo específico. Por ex, a casa da JK Rowling, em Edimburgo, tinha um muro verde de mais de 2 m de altura);
  • Lotérica (conta se paga por internet banking, e apostas se faz em mercado, postos de gasolinas, lojinhas de esquina);
  • Bancas de revista (jornais e revistas se compra nos mercados, postos de gasolina, lojinhas de esquina)
  • Boleto bancário (a gente se livra deles aqui, nas não das contas, infelizmente)
  • Carnê de parcelamento em lojas, tipo Casas Bahia, Renner, etcs (ou você paga à vista, ou não compra. Exceção para algumas pouquíssimas coisas, quando o parcelamento é então através do banco);
  • Parcelar no cartão (não existe comprar parcelado no cartão. Compra-se à vista e, se necessário, paga-se apenas a parcela mínima do cartão todos os meses, o que, na prática, acaba sendo um tipo de parcelamento);
  • Guardas armados em portas de bancos (nunca vi; nem detector de metal)
  • Policiais armados (Vi apenas uma vez, em Edimburgo, nos dias seguintes a uma ameaça de bomba);
  • Cartório (contratos geralmente não exigem reconhecimento de firma, e autenticação de documentos pode ser feita por advogados);
  • Panfleteiros (a não ser na Universidade, ou durante o Fringe!);
  • Vendedores e malabaristas no semáforo;
  • Camelôs e vendedores de rua no geral (só em feirinhas. Nem pensar um cara sentado em um banquinho vendendo óculos de sol relógios e chips de celular);
  • Caroneiros (nunca vi ninguém pedindo carona nas estradas);
  • Cobrador e catraca em ônibus (o próprio motorista cobra e emite o ticket);
  • Salgadinho de festa (ao invés de coxinha e pastelzinho, sanduichinhos de pepino e palitos de cenoura);
  • Bater palmas ao cantar “Parabéns”, e depois também, e o “É big, é big…” ou o “Com quem será…” (aqui se canta um “Happy Birthday” baixinho, sem palmas, tranquilinho…. bem diferente daquela coisa ultra animada e sem fim do Brasil – que aliás prefiro!)
  • Festas chiques, caríssimas e mega decoradas para bebês de 1 ano (geralmente, é um bolinho em casa, no silêncio do “Parabéns” baixinho – acho até que bebês preferem assim)
  • Chás de bebê chiques, caríssimos e mega decorados (aliás, chás de bebê nem são tão populares assim);
  • Buzinar para agradecer, ou para cumprimentar (buzina é “alerta”. Quando a gente quer agradecer algum carro que deu passagem, ou cumprimentar alguém, um leve aceno com a mão é suficiente);
  • Vendinhas de beira de estrada (sabe o caldo de cana com pastel na BR? Impensável… infelizmente!)
  • Senha no banco (os britânicos gostam é de fila mesmo);
  • Furar fila (ah, nem tente!)
  • Cadeiras e mesas de plástico de marcas de cerveja;
  • Postes de luz com fios emaranhados e “gato” (a gigantesca maioria é subterrânea. Não os “gatos”, a luz);
  • Frentista (a gente mesma abastece o próprio carro e depois entra na lojinha para pagar o valor. Ou, alternativamente, paga com o cartão na própria bomba);
  • Flanelinha (sabe aquele que sinaliza dizendo “aqui, ó tia, pode deixar aqui que tá bem cuidado!” e depois tem que dar um troco pra ele? Não existe aqui);
  • Trotes de vestibular (sabe aquele cara descalço, com cara pintada, que fica no semáforo segurando placa de “calouro” e pedindo dinheiro porque é calouro? Aqui, só se a cara fosse pintada de azul, a placa fosse de “Yes!” e o cara fosse um independentista completamente bêbado!)

Mora ou já morou na Escócia e lembrou de mais alguma? Me conta pra que a lista fique mais completa. 😉

Na Universidade de Edimburgo: um PhD entre impostores, Darwin e grandes mulheres.

Em setembro passado, eu me tornei aluna da Universidade de Edimburgo, depois de ser aprovada na seleção para um doutorado em política e relações internacionais. 

Fundada em 1582, a Universidade é quarta mais antiga da Escócia (perde para as de St Andrews, Glasgow, e Aberdeen) e a 6ª melhor da Europa. No Reino Unido, fica atrás somente das universidades de Oxford e Cambridge. Charles Darwin, David Hume, Peter Higgs, Arthur Conan Doyle, e Sir Walter Scott estudaram aqui, bem como 3 primeiros-ministros e 19 ganhadores do prêmio Nobel. Da Universidade de Edimburgo saíram descobertas e invenções como as da anestesia, do telefone, do dióxido de carbono, da fertilização in-vitro, e das vacinas do HPV e da Hepatite B.

A Universidade possui até um tartan próprio!

Tartan da Universidade de Edimburgo

Então imaginem eu, um humilde fruto de Araranguá, sentada em um salão vitoriano enorme, em uma construção do século XVIII, no primeiro dia de orientações e pensando, incrédula, “O que é que eu estou fazendo aqui?” Eu nem tinha grandes esperanças de passar, fiz a seleção como um treino. Pensei que aplicaria todos os anos, pra ir treinando e aprimorando a proposta de pesquisa e que, daqui a uns 5 anos, talvez eu tivesse chance de passar. Mas foi assim, de primeira. Muita sorte. Eu olhava em volta, olhava pra todos os outros, com caras de altamente inteligentes e qualificados e pensava: “Nossa, eu devo enganar muito bem mesmo….”. E fiquei bem quieta pra ninguém descobrir que eu era uma farsa…

Confusões sobre pertencimento

Quando nos mudamos para o vilarejo onde moramos agora, o Pedro tinha 3 anos. Ele dizia para as professoras e coleguinhas que era de “Edimbra” (Edinburgh, pronunciado como um local). Justo, havíamos mesmo vindo de lá, onde moramos por um tempo. E, embora eu explicasse, ele não tinha muita noção do que era o Brasil.

Aos 4 anos de idade, ele veio me contar sobre um coleguinha novo: 

“O Santiago nos contou que o pai dele é do Chile! Isso não é incrível?!!”, me disse, empolgado. 

“Mas, Pedro, e nós somos do Brasil, que é do lado do Chile, isso não é legal também? Você pode contar isso pra eles, que você é do Brasil”.

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