Faz quase um ano que retornamos ao Brasil depois de viver dois anos em Aberdeen.
Quem gosta de mudanças ou tem espírito cigano, talvez nem se incomode… talvez até se empolgue em começar tudo de novo, talvez sinta alegria imensa em voltar para o seu país natal… entretanto, sou daquelas pessoas que não se sentem confortáveis com mudanças, aliás, devo confessar que não gosto nem um pouco…
Primeiramente, quando chegamos na Cidade de Granito, em 2015, nada foi muito fácil para mim. Foram meses de adaptação…o frio, o vento, a escuridão daquele dezembro, o alto custo de vida, a pouca grana (péssima combinação) e a solidão (não, a internet não supriu toda a minha carência) encolheram meu coração. Como sair com uma bebê na chuva? Como passar o dia inteiro em casa sem trabalhar? Como cozinhar todos os dias todas as refeições (eu que nunca me dediquei à culinária e zero criatividade para isso)? Muitos desafios a enfrentar ao mesmo tempo… Passando o desespero inicial, me apeguei a um espírito desbravador. Me dediquei a estudar sobre um país tão antigo, tão cheio de histórias e tradições. Tanta coisa para aprender! Além disso, saí em busca de contatos de outras mães. A grande maravilha da rede é proporcionar essa conectividade e encontrar apoio. Pouco a pouco fui me sentindo ambientada e tinha tempo de sobra (entre sonecas e mamadas da Milena) para reflexões sobre aquele momento da minha vida. Enfim, estava profundamente agradecida por ter tido a oportunidade de me afastar por um tempo da vida tão confusa que eu levava no Brasil.
Achei bem possível comparar o Rio Grande do Sul com a Escócia: pequeno, muito verde, vida agropecuária forte, frio, povo de cultura marcante e guerreira com trajes típicos peculiares.
Passada essa fase, vivi dois anos em ritmo lento, de paz, de segurança, de caminhadas preguiçosas, de tardes de chá com gostosuras, de amigos do mundo inteiro e, consequentemente, de crescimento pessoal. Quando chegou a hora do retorno, respirei fundo com consciência que teria que reaprender a viver no Brasil. Vivi não só em um país diferente, mas também uma fase da minha vida totalmente fora das minhas expectativas…. praticamente um universo paralelo.
Infelizmente, ao chegar, tudo igual no país tupiniquim e um pouco pior. Entretanto, eu estava diferente, o que revelou contrastes que não consegui ignorar. Floresceram sentimentos particulares, que com certeza contaminaram o meu olhar para algumas realidades. Porém, minhas impressões no retorno são enviesadas pela volta a capital de um estado brasileiro empobrecido e progressivamente violento.
Não sei exatamente em que ponto se permitiu que a violência tomasse tais proporções. As notícias de assaltos, homicídios, invasões por dia não caberiam em um noticiário que durasse 24h. Meus dois anos na Escócia me fizeram mais sensível, humanizada, espiritualizada e algumas questões começaram a me deixar extremamente incomodada. Literalmente chorei assistindo ao noticiário, vendo Gabriel, o Pensador cantando uma música protesto por crianças que sucumbiram na troca de tiros no Rio de Janeiro. Haviam sido mais de três naquela semana. Muito duro assitir a tal cenário depois de viver em um país onde as pessoas não conseguiam sequer conceber que um assaltante tivesse armas… algo muito errado acontecendo. Aqui, desde que cheguei, fiquei uma hora tentando cancelar um serviço, recebi um orçamento falso e abusivo para consertar minha lavadora de roupas, a escolinha de minha filha foi invadida, minha mãe foi furtada na rodoviária, duas funcionárias da UTI onde trabalho foram assaltadas com faca na saída do serviço (uma delas às 7h da manhã), fora todos os relatos dos motoristas de aplicativos sobre assaltos a carros. Muito triste essa situação. Os meus dias têm sido invadidos por essa violência, que não consigo ignorar. A sugestão de não ouvir aos jornais é mais do que válida, pois as notícias chegam naturalmente e já é bastante difícil lidar com elas.
E nessa desorganização social tamanha, eu procuro me recolher um pouco e me dei conta de como somos barulhentos. Sinto muita falta do silêncio de Aberdeen. É difícil desligar, acalmar o coração e a mente, ter uma refeição com calma e relaxada. É necessário um grande esforço para silenciar. Ouvir a si mesmo. Há uma pressão externa forte. Muitas vozes e padrões a serem seguidos. Percebi também muita incoerência. Ao mesmo tempo que tudo pode, um padrão deve ser alcançado para, enfim, ser bem sucedido e aceito. Para as mulheres, uma exigência estética que acredito escravizar. Para os indivíduos, o carro, a roupa, o relógio, o celular… tudo conota status. O quê comer, o salão de beleza da moda, o tamanho da festa de aniversário dos filhos, a escola onde estudam, o bairro onde se mora, a casa na praia, as viagens para o exterior … tudo é contabilizado na escore do sucesso brasileiro. No país de William Wallace me senti muito mais livre, sem aquela constante exigência de seguir imposições de uma sociedade consumista. O escocês é simples. Vive com simplicidade. Algo absolutamente maravilhoso e que eu amei demais.
Além do mais, percebi o quanto falta empatia na grande parte na nossa sociedade. Se fala muito, se houve pouco. Se invade, sem pedir licença o espaço do outro. O escocês, por sua vez, é educado. Uma das palavras mais ouvidas por lá, em todos os lugares por onde andávamos era: “sorry “. Exemplo: um dia, fui ao teatro em Aberdeen assistir ao musical “Mamma Mia”. Para mim, as melodias do ABBA, são irresistíveis e, para a minha surpresa, NINGUÉM sacudia nem a cabeça, para que todos pudessem assistir à peça adequadamente. Incrível.
Também voltei muito mais irritada com a falta bom senso e com o famoso “jeitinho” para fazer as coisas de forma pouco ética. Na Escócia, ao contrário, passamos por algumas situações que me mostraram o óbvio: é tão mais fácil viver em cooperação, confiando na honestidade do outro e usando o bom senso. Vou contar uma outra situação que vivemos para exemplificar: em um fim-de-semana de primavera, reservamos um hotel e um carro para passear pelas Highlands. Pois bem, ao acordamos no sábado pela manhã, o tempo estava péssimo, frio, com chuva e vento e a Milena resfriada. Com certeza seria um programa péssimo, onde eu passaria preocupada o tempo inteiro em deixar ela bem aquecida, com medo de uma pneumonia, e não ficaria nem um pouco à vontade com atividades ao ar livre. Então, decidimos cancelar as reservas, para nossa tranquilidade e para a segurança da nossa filha, apesar de acreditarmos que pagaríamos uma multa pelo cancelamento. Liguei para o hotel e expliquei a situação, me desculpando pelo inconveniente. Ao final, perguntei como eu deveria fazer o pagamento da penalidade. A gentil recepcionista me respondeu que, logicamente, nada seria cobrado, afinal, era um problema de saúde de uma criança pequena. E se despediu alegremente, desejando melhoras para ela. Fiquei de queixo caído e deixei escapar: “eu amo esse país “. Se fosse aqui, ou seria cobrado, ou chamariam o gerente, ou solicitado atestado de saúde e o reembolso seria feito após 60 dias… não é muito mais difícil e cansativo viver assim? Mergulhado em burocracia, tendo que provar todo o tempo que você está falando a verdade? Outra situação foi na lavanderia. Levei um casaco que estava manchado. A atendente me falou que o preço para remover a mancha seria 20 libras. Ela me aconselhou a não fazer o serviço e me ensinou como fazer em casa. Simples e honesto assim.
Enfim, achei que eu chegaria aqui super segura, mais dona da situação e das minhas convicções, mas confesso que o choque de culturas mexeu comigo. Não me identifico (acho que na verdade nunca o fiz) com certos aspectos da cultura brasileira e dá uma saudade do “meu” povo escocês. São como tapas constantes e, confesso, que às vezes fraquejo.
Nesses momentos, tento focar nas coisas positivas de retornar ao meu país. Passei a notar que nossos idosos também são amáveis e simpáticos. Comecei a olhar mais para o céu azul, para a luminosidade dos nossos dias, para a diversidade de cantos de pássaros, para as lindas as árvores do bairro onde eu moro. Percebi quanta abundância há no Brasil, tudo é muito: muita comida nos buffets, muito sol, muita gente, muita mão de obra (nas construções, nas portarias dos prédios, no setor da limpeza, nos salões de beleza…), muitos médicos, muitos hospitais (em Aberdeen só tínhamos um), muita sensualidade, muita liberdade…Outra alegria de um país tropical, é secar as roupas no varal no mesmo dia. Parece brincadeira, mas essa era uma luta que eu travava… fazia parte da minha rotina acordar, botar as roupas para lavar, fazer outras tarefas do dia, voltar, e botar as roupas na secadora… e toalhas de banho, então…vários ciclos…
O calor da acolhida da família é outro grande diferencial ao retornar. É a grande tristeza dos expatriados. Obviamente, nos tempos que vivemos, a tecnologia se apresenta como uma ferramenta poderosa para diminuir a saudade… mas e quando vem a doença, os imprevistos? Quando bate a vontade do abraço, do cheiro, de dividir a mesa do café da tarde? No sorriso puro e inocente de minha filha, vi transparecer a inquestionável importância de estar perto da família… entre primos, tios, avós… muitos abraços, beijos e brincadeiras, recebendo amor genuíno, Milena está feliz. Eu, como adulta, com o ego e com a racionalidade filtrando meu olhar, me sinto feliz, mas apreensiva com a violência, com a agressividade, a desorganização e todas as muitas dificuldades de se viver atualmente no Brasil.
Entendo que muito do que tanto admiro na Escócia é fruto de um passado de guerras, doenças e fome, o que fez pessoas se igualarem e, na dificuldade e no desespero, enfim, se perceberem uma “unidade”: aqueles que vivem no pequeno país no norte da ilha do Reino Unido. Acredito que isso faça muita diferença em educar os indivíduos a viverem em sociedade, a compartilhar, a cuidar, a lutar, a dar o seu melhor por uma sociedade mais justa.
Acredito que ainda temos um caminho, não só a percorrer, mas também, a aprender com as nossas crises… que é preciso, e muito, avançar.
Sylvia
Adorei seu relato! Imagino o choque cultural! E fiquei pensando… sua experiência lá pode fazer muita diferença na vida das pessoas de seu convívio. Transmitir o que aprendeu para ajudar o Brasil a amadurecer, pois, sim, somos muito imaturos! Obrigada por compartilhar!
Silvia
Obrigada Sylvia! Sim, transmitir o que aprendemos dando exemplo é o que instituímos como meta. Talvez, pelo menos com aquelas pessoas que temos contato, essa seja uma maneira de provocar alguma mudança.
Luciana Silva
Senti na alma tuas palavras, só quem está longe entende… mas eu acredito que a vida é dos corajosos, seja onde estiverem. Só quem vive tudo isso pode entender melhor o mundo em que vive e conhecer melhor a si próprio. Que Deus os proteja e cuide. Um dia quem sabe também não volto. Só Deus sabe. Beijo
Silvia
Obrigada Luciana! Toda palavra de apoio nessa hora é bem vinda! Quem sabe eu também volto e nos encontramos por lá! Beijos
Valeria
Seja bem vinda de volta,espero que se adapte novamente,e quando bater aquela saudade,se lembrr das Highlands e de td que viveu,esta td ai em seu coração,boa sorte.;)
Elizabeth
Fiquei com o coração pequeno ao ler esse relato tristemente maravilhoso. Fiquei mais tranquila e feliz por você e sua família ao ler o finalzinho do texto. Você está tentando enxergar o lado bom do nosso Brasil, que está muito desnorteado no momento, mas vamos acreditar nas mudanças boas, com fé elas virão.
Silvia
Oi Valeria! Muito obrigada! Receber um apoio nessa hora é super importante!
Sabe que volto para lá em meus pensamentos bem fácil!! Lembro de muuuuitos detalhes da cidade e da minha vida lá! Até do chão do supermercado kkkk! Beijos
Silvia
Oi Elisabeth! Obrigada pelo carinho! Acredito ser muito importante ver um lado bom, pois geralmente ele existe… o Brasil tem muito potencial para ser um lugar feliz! Beijos
Ana Paula
Oi Sylvia!
Fiquei apenas 15 dias de férias na Escócia e qdo voltei a São Paulo, percebi , com MTA tristeza como, apesar de existir os mesmos problemas de qualquer sociedade, no Brasil as coisas não são solucionadas com transparência e inteligência. Fico imensamente triste ao constatar que nascemos numa terra tão rica e bela mas que , infelizmente, falta humanidade verdadeira, que vi na Escocia e tb na Austrália (o de residi por 6meses) Essa licao de nações que passaram muitas dificuldades e tiraram bons frutos dela. Rezo para que um dia, possamos ver isso acontecer no nosso país. Quem sabe, pessoas como nós podem ser vetores deste efeito. Viva a Escócia!!! Salve o Brasil!
Silvia
Obrigada Ana Paula!!! Sim, temos matéria prima para a felicidade aqui no Brasil!!! Que possamos trazer um pouco do que aprendemos para enriquecer culturalmente nosso país!! Beijos
Grasielle
Olá amiga! Eu nunca fui para fora do Brasil, mas me identifiquei muito com seu relato sobre dificuldade em mudanças e se ambientar. Moro no interior do RJ, e quando precisava ir até a capital estranhava demais. O interior, lugares onde a população é mais afastada é diferente mesmo. Minha cidade de 40.000 habitantes não é mais a mesma de 10 anos atrás, mas ainda vivo muito bem por aqui. O Rio de Janeiro está muito caótico! Meus familiares tem muita vontade de voltar, mas o interior é difícil de emprego. Sou concursada e pra mim é mais fácil continuar no interior. Mas não é preciso ir até a Escócia pra perceber tantas diferenças. Mas ainda assim observo muita coisa negativa no nosso povo. Mas é onde nasci,onde está minha família. Porém toda essa futilidade não me enquadra também. Nosso país tem tanto a melhorar…principalmente na educação. Na educação pra se relacionar e na educação acadêmica. O ensino é um fracasso. As pessoas não gostam de ler, não tem empatia nem respeito pelas outras. Uma coisa está muito mais ligada à outra do que se imagina.
Silvia
Olá Grasielle, obrigada pelo depoimento. Também sou do interior onde acho a vida mais fácil, embora ainda falte recursos mais conplexos bem como oportunidade de emprego. Nós nos obrigamos a ficar na capital gaúcha justamente por isso. Há muito a ser feito pelo país, principalmente nas cidades menores . Beijos.
Evelim Becker
Que bom que você ainda consegue ver os pontos positivos deste país maravilhoso e abençoado com tanta diversidade natural e cultural , mas imagino que realmente seja decepcionante retornar para uma sociedade com tantos “muitos” que não funcionam , que não atendem as necessidades da população e não respeitam os direitos dos indivíduos.
Ainda não tive a oportunidade de viver fora do país mas às vezes penso que se tivesse não voltaria mas tenho certeza que sentindo toda essa ausência da família pensaria duas vezes…..afinal essa sim é nosso porto seguro.
Silvia
Oi Evelyn! Obrigada pelo comentário!! Obrigada por ter lido o textão… kkkk… nesse momento onde queremos tudo rápido! Sim, vamos em frente e tentar contribuir para mudanças no nosso país!! Beijos
Narister Oliveira
Lindo texto, Silvia. Fui ao Brasil em ferias no mes de julho depois de 2 anos ,e tive os mesmos sentimentos : alegriar por rever minha familia e amigos , e tristeza por ver que os velhos problemas estao cada dia piores. Desejo tudo de bom pra voce e sua familia, e que a boa experiencia na Escocia te inspire e fortaleca para ser feliz no Brasil.
Silvia
Obrigada Narister! Que bom que gostaste!! Infelizmente não é um texto de alegrias como eu gostaria de escrever!! Mas estar próximo da minha família compensa tudo! Beijos
rickgold
Você sabe informar se existe alguma espécie de visto para brasileiros aposentados no Reino Unido (e, em especial, a Escócia). Não tenho cidadania européia mas também não tenho intenções de trabalhar no exterior. Soube que alguns países estimulam a vinda de estrangeiros aposentados por conta dos recursos financeiros que dispõe mas não sei se isso ocorre no Reino Unido.
Anelise
Bom dia Rick. Não conheço nada do tipo por aqui. Mas toda informação sobre vistos e imigração pode ser encontrada no site do governo:https://www.gov.uk/browse/visas-immigration
Cris
Olá Silvia,
Sei exatamente o que vc está sentindo e me identifico com tudo o que vc escreveu. Vivi na Alemanha por duas vezes. No primeiro período, de 1 ano e meio, voltei me sentindo exatamente como vc em todos os aspectos mencionados. Foi muito pouco tempo lá e voltar doeu muito. Porém, 3 anos após a volta e com um segundo filho com quase 2 anos, surgiu uma nova oportunidade no trabalho do meu marido a qual não desperdiçamos. E lá se foram mais 5 anos. Retornamos no começo de 2018, mas com um sentimento bastante diferente do que na primeira vez. Após 3 anos a gente começa a ver as coisas com outros olhos. O céu constantemente cinza começa a pesar até naqueles que como eu, se adaptam bem às mudanças. Sempre digo que o grande problema da Europa não é o frio, mas a escuridão. Com 4 anos a vontade de voltar a ver o céu azul e a alegria dos brasileiros era enorme. Com 5 anos era tudo o que eu podia desejar, por melhor que a vida seja lá, como você tão bem descreveu. A alegria dos meus filhos aqui, que brincam o ano todo do lado de fora (num condomínio, claro), a espontaneidade, gentileza e simpatia dos brasileiros não tem preço. Talvez os escoceses sejam mais receptivos que os alemães (só conheci a Escócia a passeio) mas acho que de maneira geral o clima influencia muito a personalidade das pessoas. Acho que no começo, nos 3 primeiros anos, temos a tendência natural de só vermos o lado positivo da vida de expatriada. Após esse período é que a ficha começa a cair. Você ficou apenas dois anos e por isso ainda estava muito apaixonada pelo país, que, assim como a Alemanha, possui uma qualidade de vida muito superior ao Brasil, é inegável. Mas acho que muito provavelmente você se sentiria como eu após uns 5 anos por lá, por mais amigos que a gente tenha feito. Enfim, se te serve de consolo, apesar da violência em que vivemos, das notícias absurdas que lemos todos os dias sobre a nossa política e economia, acho que somos mais felizes aqui. Achei o exemplo do show do ABBA bastante interessante. Você viu de maneira positiva o fato de ninguém se mexer. Em um show que assisti e presenciei a mesma reação, saí absolutamente frustrada. Não conseguia acreditar que num show dançante as pessoas pudessem ficar paradas. Não acredito que, nesse caso, seja por respeito aos outros. É simplesmente porque a personalidade deles não permite que eles se soltem, que relaxem, que curtam a vida. Pessoalmente não consigo ver isso de maneira positiva. E acho que é esse tipo de coisa que faz com que os brasileiros sejam tão adorados em todo lugar. Nós dançamos, nós cantamos, nós sentimos! Mesmo que muitas vezes, infelizmente, a falta de noção e desrespeito de algumas pessoas nos matem de vergonha, no geral, a vida no Brasil é mais leve. Eu me sinto assim. Na Alemanha eu vivia numa preocupação extrema de que meus filhos não gritassem, não corressem onde não deviam, não rissem muito alto. Uma vez, ao chegarmos numa estação de esqui, meu filho que na época tinha uns 4 anos, ficou super empolgado com a neve e começou a gritar de alegria. Um grupo de idosos que estava no local começou a reclamar imediatamente. Nunca vou esquecer. Como eu queria poder falar bem alemão naquele momento para poder meter a boca! Fiz isso em português mesmo, mostrei toda a minha indignação. Com certeza eles entenderam o recado. Meu filho começou a chorar num momento que era pra ser de total alegria. Com o tempo passei a ignorar esse tipo de reação que era bem comum dos idosos. Felizmente as novas gerações não são tão ranzinzas assim, mas a polidez ainda impera, mesmo em situações onde não deveriam, como num show. Por isso Fred Mercury ficou tão impressionado no Brasil, como retratado no filme né? Enfim, acho que a experiência de expatriação é maravilhosa, recomendo a todos que tenham a oportunidade. Viajei a Europa toda e sou muito grata pois não há nada que eu ame mais do que viajar. Mas foi exatamente essa experiência que me fez valorizar muito mais o país em que vivemos, que apesar de todos os inúmeros problemas, segue com um povo alegre, amigo e caloroso. E céu sempre azul 🙂
Silvia
Olá Cris,
Mil desculpas pela demora em responder. Acho que esse começo de ano no Brasil foi tão louco, que deixei algumas coisas passarem. Muito obrigada por dividir sua experiência aqui, acho muito importante, pois vejo que muitos brasileiros estão com um desejo enorme de fugir desse caos que estamos vivendo, entretanto, a vida no exterior pode não ser tão fácil quanto se pensa. Dependendo da cultura e dos hábitos de cada um, pode ser muito difícil e triste. Acho que já estou mais adaptada de volta, embora a irresponsabilidade brasileira me incomode muito. Mas estamos aqui, com nossa bagagem cultural e temos essa incumbência de fazer algo de bom pelo nosso país. Vamos em frente. Grande beijo.
Andrea Bassani
Olá Silvia,
Sou a Andrea de Curitiba e meu esposo está trabalhando na Inglaterra, então tudo aconteceu de repente para nós. Ainda não mudei definitivamente para cá, e vivo meio lá, meio cá por enquanto, até as coisas se estabilizarem aqui. Recentemente estivemos na Escócia e concordo com tudo o que você escreveu! Amei o País, as pessoas e também comparei os escoceses aos gaúchos! Meu pai é gaúcho e minha mãe é catarinense e a cultura gaúcha que amo fez parte de toda minha infância. Concordo que nosso País é maravilhoso, mas que infelizmente não é seguro e não temos paz! O nosso povo é muito sofrido e nada é feito para facilitar nossas vidas! E sim, tudo é uma questão de status! Aqui é tudo mais simples e tranquilo! Eu não estava acostumada com o silêncio e no começo até achei estranho! Mas agora estou amando essa tranquilidade e toda a gentileza e cordialidade das pessoas! Fomos muito bem recebidos aqui e apesar de termos uma vida bem mais modesta do que no Brasil, não mudaria nada! É isso que quero para nossas vidas daqui em diante! Meu Deus, como é bom caminhar pelas ruas a noite ou em qualquer horário e não sentir medo! Não sentir medo de descer do carro e entrar em casa ou de estacionar o carro na rua e etc… Como é bom ouvir as palavras obrigado e desculpe o tempo todo! Aqui as pessoas confiam de verdade umas nas outras! A palavra tem valor! Não precisa ficar comprovando ou provando nada! A única coisa que pega é a saudade da família, dos amigos, dos churrascos, da nossa comida maravilhosa e de falar nosso idioma! Adorei sua história e suas palavras! Obrigada!
Silvia
Oi Andrea, mil desculpas pela demora. Muito obrigada pelo relato. Sim, a segurança é algo realmente fabuloso e impactante, pois temos muito pouco no Brasil. Tenho muita saudade mesmo de sentir isso, essa paz e tranquilidade, algo tão distante por aqui. Aproveite muito, estás num lugar maravilhoso. Beijos
Janaína Olinto
Muito obrigada por seus relatos, transmitidos com uma verdade genuína, impossível não viajar à Scotland em tuas palavras. Tbém sou apaixonada por este país e descobri teu blog recentemente, tenho muito para ler ainda. Tbém sou gaúcha, e senti uma profunda emoção quando fizestes a relação do povo gaúcho com o Escocês. Um super abraço.
Silvia
Oi Janaína, legal você concordar comigo sobre o Rio Grande do Sul e a Escócia. Esses dias estávamos conversando sobre como são pouco exploraras as nossas belezas naturais. Como temos a Lagoa dos Patos, a maior laguna dessa formação no mundo e tão pouca infraestrutura para desfrutarmos dela. Quem sabe um dia a gente chegue no nível dos escoceses. Beijos
Izabely
Bom dia, Silvia.
Meu esposo recebeu uma proposta de emprego para Aberdeen. É um contrato de dois anos. Não iniciou ainda. A escala de trabalho dele será 1 mês na Escócia e 1 mês no Brasil. Ainda estamos vendo a situação de ir morar lá ou não. Gostaria de saber se há a possibilidade de visitá-lo em todos os meses em que ele esteja lá. Se puder me ajudar, agradeço. Seria bom se eu pudesse visitá-lo todos os meses em que esteja por lá. Quero muito ir pra lá, mas existem ainda alguns impedimentos.
Silvia
Oi Isabely, obrigada pelo contato. Olha só, o visto de turista é de seis meses na Escócia, mas cada vez que você entrar de novo no país, recebe ele. Então, acredito que não terá problemas. Torço para que dê tudo certo, será uma ótima experiência. Beijos