Apesar de ter sempre morado perto do mar, eu nunca fui de curtir a praia da maneira mais popular: se esquentando no sol e se refrescando na água. Pra mim, a praia sempre teve mais graça no outono e no inverno, quando ficava vazia e eu podia simplesmente andar por ela, sentindo a areia gelada sob os pés descalços, escutando o barulho das ondas e dos pássaros, enquanto pensava em coisas da vida ou examinava a areia, em busca de conchinhas e outros “tesouros” que a maré traz.
Mas aqui na Escócia tem uma coisa que eu nunca encontrei nas praias do sul do Brasil: vidros marinhos.
Vidros marinhos são, simplesmente, cacos de vidro que passaram anos sendo moldados e polidos pelas ondas e pela areia, até adquirirem uma aparência fosca e arredondada, lembrando a de cristais. São prova da benevolente ação do mar, que transforma nosso lixo em pequenas obras de arte.
Não são obviamente, exclusividade da costa escocesa, e nem são tão frequentes aqui quanto em outros lugares. Como são as correntes marítimas que trazem esses vidrinhos até a costa (e, infelizmente, trazem outros “lixos” não tão bonitos também), são elas que determinam a presença deles. Nos Estados Unidos, na Rússia, e no Japão estão algumas das praias mais lindamente cheias de vidros marinhos.
Muita gente coleta ou compra vidros marinhos para usar em artesanato. Existe vidro marinho “falso” também, produzido artificialmente ao invés de pela ação do mar. Ficam tão bonitos quanto os naturais, encontrados nas praias, aliás. Mas, pra quem coleciona, o encanto está em encontrar um deles em meio a areia e outras pedrinhas.
Os mais raros, no mundo todo, são os de coloração vermelha, amarela e laranja.
Acredito que a maioria dos que eu encontro aqui são provenientes de garrafas. Em muitos, se consegue identificar curvaturas típicas, como de fundo e de bocal. Pra mim, é sempre o máximo quando encontro algum com letras ou com um detalhe entalhado.
Outras coisas que eu adoro encontrar nas praias são pedacinhos de cerâmica pintada, pedrinhas diferentes, conchas e fósseis.
Segundo uma lenda europeia antiga, vidros marinhos seriam lágrimas de sereias, vertidas toda vez que uma sereia se apaixona por um humano ou quando algum marinheiro morre no mar. Dizem que essas lágrimas são levadas pelas ondas até a praia, em forma de vidrinhos coloridos. Ninguém sabe de onde é esta lenda ou quando ela surgiu, mas eu gosto da ideia de que nenhuma vida, nem mesmo a de algum marinheiro desconhecido, é perdida sem lágrimas. E que essas lágrimas viajam pelo oceano e chegam na praia, com uma história pra nos contar.
Apesar de os vidros marinhos serem raros no Brasil (ou, pelo menos, na parte do Brasil que eu conheço), existe um outro tipo de “tesouro” que eu vivo procurando por aqui e que pode ser encontrado no mundo inteiro. Se chama âmbar cinza (ou âmbar de baleia) e parece uma pedra comum, esquisita, de cor que varia de preto a branco, passando por cinza e castanho claro, mas é na verdade uma substância rara produzida no estômago e intestino de baleias cachalote.
Sim, leitores e leitoras, eu ando por aí procurando cocô de baleia pelas praias, e você estaria fazendo o mesmo se soubesse o quanto valem: cerca de 20 mil dólares por quilo!! O âmbar cinza é utilizado pela indústria de perfumes e é tão valioso por ser raro e porque nunca se conseguiu reproduzir o aroma em laboratório.
A parte difícil é a identificação. Porque eu tenho uma teoria de que o âmbar cinza nem é tão raro assim, o problema é que quase ninguém procura por eles ou sabe identificar. Mas, como não quero ficar rica sozinha, vou compartilhar duas dicas de ouro com vocês (me agradeçam depois, me convidando para um chá da tarde na mansão nova de vocês):
Procure vestígios de coisas que as baleias não conseguem digerir e que, por isso, estão intactas no âmbar, como bicos de lula. Parecem uns espinhos pretos.
Aqueça uma agulha no fogo e tente perfurar a pedra suspeita. Se você conseguir, e se sair uma fumaça branca de aroma adocicado, é muito provável que você tenha um âmbar cinza em mãos.
Mas por que “muito provável”, e não “certo”? Porque pode ser alguma outra coisa coincidentemente parecida. Pode ser que os “bicos de lula” sejam apenas manchas ou outro detrito, pode ser que o que a agulha perfure seja uma camada de óleo vegetal, e pode ser que o “aroma adocicado” seja coisa da sua cabeça. Existe muito “lixo” no mar, e muitas coisas podem ser parecidas. Mas, se fosse fácil, não seria um “tesouro”, não é mesmo?
Luciana Silva
Oi, como sempre lindas palavras… adoro. Beijinhos, fiquem bem 😉
Anelise
Obrigada!!! Vocês também!
Jeniffer Sousa
Primeira vez que leio o site, parabéns, lindas palavras, te fazem sonhar e relaxar. Moro na praia de Bertioga no Brasil, próximo a Santos (SP). Já tenho planos para os fins de semana 😉 <3
Andreia Geronimo
Ola Anelise !
Sou uma admiradora da sua escrita, da sua visão das coisas, da sua sensibilidade e humanidade Adoro as lendas e contos!
Gratidão por compartilhar. Amei saber do ambar cinza. Grande abraco!
Anelise
Oi Andreia, obrigada por comentar! Fico super feliz de saber que meus textos agradam, me anima a continuar escrevendo. Tenho muitos contos e lendas na manga, ainda, obrigada por me estimular a compartilhá-los.
Maristela
Olá!
Obrigada pelas informações, estava com dúvidas do que eu tinha encontrado na praia, agora sei que encontrei vidros marinhos nas praias de Santa Catarina.
Ana Paula
Anelise! acho que tenho um vidro marinho e nem sabia!
Vc que me deu! queria te mostra a foto pra vc confirmar.
Tava suspeitando que era plastico ou algum tipo de resina porque não é gelado como uma pedra, por exemplo.
Adotei seu texto e ter adquirido esse novo conhecimento sobre cocôs de baleia! 😉
Anelise
Sim, eu dei vidros marinhos pra vcs, lembra? Levei um punhado e vcs escolheram, é isso mesmo!! Vc tem lágrimas de sereia.
Ana
Fiquei feliz agora! não lembrava o que era e agora já sei!
Obrigada! bj
Anelise
Mas me manda a foto sim!
azenatefds88@gmail.com
Parabéns pelo seu trabalho é lindo
E deve ser muito gratificante
Vivian Raira
Moro no Recife, perto de Boa viagem, tem uma praia aqui em que encontro vidro marinho. Estou pegando pra fazer artesanato pra mim. Realmente são tesouros encantadores. Encontrei em branco com entalhe de estrelas. muito lindo! Já achei aqui laranja, azul claro e escuro também. Apesar de nem em sonho ter tanto vidro marinho quanto essas praias das fotos.
Cristiano Reis
Anelise,
Estou com a família em férias aqui em Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Encontrei nestes dias varios vidros marinhos e vivaram minha paixão.
Estou pesquisando sobre vidros marinhos e me deparei com seu artigo.
Creio que começa uma paixão arrebatadora e pelo que me conheço, irei transformar minha descoberta em lindas obras.
Grande abraço,
Cristiano Reis
Anelise
Oi Cristiano, nossa, que demais você ter achado vidros marinhos aí!! Eu nunca os encontrei, no Brasil! Grande sorte. Com certeza, começa uma paixão, eles são apaixonantes e viciantes! Obrigada por ler e comentar! Abraços!
Marcos Fogel
Onde mro então tem valor .. rss, praia isolada e onde vou acho sempre algo assim .. vidros do mar, aliás, achei uma garrrafa do mar, muito antiga (com alguma certeza), e partes trabalhadas pela vida marinha (principalmente bocal e alguns lados) e outras partes ainda bem não digo naturais mas muito pouco modificadas. Linda garrafa fiquei fascinado, confesso.
ANA CESAR
Bom dia onde compro esses vidros?
Grata
Ana