Outubro, mês de Halloween e de contar “causos” misteriosos. 👀
Este aconteceu comigo e com o Pedro, meu filhinho, nas ruínas do castelo Ravenscraig. Construído em 1460, este castelo é relativamente pequeno, e fica estrategicamente localizado no alto de um penhasco, de frente para o estuário de Forth. Nós já havíamos estado lá antes, mas desta vez voltamos com a minha mãe. O dia estava frio, nublado, e sem vento.
O espaço das ruínas deste castelo basicamente se divide em duas partes: a torre principal e a parte aberta, onde antes ficavam construções térreas e onde o muro circunda a pequena parte do penhasco. Minha mãe estava nesta última parte, batendo fotos da vista para o mar, e eu estava seguindo o Pedro, que na época tinha 4 anos, pela parte ao redor da torre. Não há como entrar em lugar algum nesse castelo. Todos os acessos para o interior da torre estão fechados com grades, por segurança.
O Pedro estava brincando de “eco”: ele parava em frente a uma porta dessas, fechada com grade, gritava “Helloo!!” e escutava o eco da voz. Fez isso em uma porta, em duas, e paramos em frente da terceira. Tudo escuro lá dentro, mas parecia ter um corredor ao fundo, à direita. Continuando a brincadeira, ele gritou “Hellooo!!!”
E o que ocorreu a seguir foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceu.
Eu repassei essa cena mentalmente múltiplas vezes, tentando não deixar escapar nenhum detalhe que pudesse explicar o episódio. Em décimos de segundo, aconteceram, quase que simultaneamente, três coisas: senti uma vibração, que foi ficando mais forte e parecendo mais próxima (quase algo como a dos sistemas de som de cinema, quando o som vibra passando pela gente); escutei uma espécie de rosnado ou rugido, grave e alto, vindo do corredor escuro e que também parecia se aproximar; e tive certeza absoluta de que algo estava vindo para nos atacar.
O Pedro correu. Eu corri. Só paramos quando chegamos até onde minha mãe estava, os dois com o coração a mil. Pensei que devia ter pegado ele no colo, caramba, que tipo de mãe eu era, fugi de um suposto perigo e deixei ele correndo por conta! Mas ele foi rápido.
“O que houve?”, minha mãe perguntou.
“Tem um “big wolf” ali dentro, e ele ia nos atacar”, o Pedro disse.
Eu nem havia pensado no que poderia ser. Não houve tempo para análises racionais. Meu cérebro entrou no modo “lutar ou fugir”, e eu obviamente não iria lutar com uma criatura rosnante assustadora não identificada. Fugi. E, vejam bem, havia outros turistas no local. Eu não teria feito o papelão de correr, apavorada e esbaforida, se eu não tivesse tido uma certeza muito forte de que algo estava vindo para nos atacar.
Mas não havia nada. Ficamos olhando, de longe, e nada. O Pedro não quis voltar, mas minha mãe foi até a porta, ficou um tempo ali, olhando, e voltou, dando de ombros. Não parecia haver nada ali dentro, apenas uma sala escura.
Mais de um ano depois, estávamos pelas redondezas, e o Pedro quis ir até o castelo, pra verificar se o “big wolf” ainda estava por lá. Fiquei admirada com o coragem investigativa dele. Fomos até a mesma porta.
“Hello!”, ele falou, baixinho, e já estávamos ambos preparados para correr.
Mas nada.
“Quer tentar mais alto?”, perguntei.
Ele acenou com a cabeça e gritou “HELLOOOO!!!”.
A voz dele ecoou pela sala escura. Depois, silêncio total.
Passei meus olhos atentamente ao redor do que a luz me permitia enxergar. Uma sala escura, com pedras enegrecidas. Parecia mesmo haver um corredor ou alguma outra entrada à direita. E mais nada.
O que quer que tenha nos assustado naquele dia já não estava mais lá.
“Não tem mais nada aqui”, o Pedro falou, parcialmente aliviado e parcialmente decepcionado.
Tempos depois, em uma das minhas leituras, me deparei com a história do Black Dog of Rosslyn. No século XIV, durante as guerras de independência, houve, supostamente, uma batalha pelo Castelo de Rosslyn, em Roslyn, no sul da Escócia (onde fica a famosa Capela de Rosslyn, que apareceu no filme O Código Da Vinci). Entre os 30.000 soldados ingleses, havia um que tinha um grande cachorro preto, que lutou ao seu lado e o defendeu, literalmente, até a morte. Quando a noite caiu, os soldados escoceses se reuniram no castelo para celebrar a vitória. Bebiam e cantavam alto quando perceberam que um grande cão preto apareceu. Ele rosnava ferozmente, mostrando os dentes, em posição ameaçadora de ataque. Os soldados fugiram, apavorados. Na primeira hora da manhã, um dos soldados resolveu voltar até o castelo. Ele não encontrou nenhum sinal do cachorro. À noite, os soldado voltaram, e o cachorro apareceu novamente, todo dentes e garras, tão assustador quando antes. Todas as noites, o fantasma do grande cachorro voltava, e os escoceses o apelidaram de “Mauthe Doog” (Black Dog).
Descobri, depois de ler essa história, que lendas de fantasmas de cachorros grandes e ferozes são comuns em toda a Grã-Bretanha. “Kirk Grim”, “Barguest”, “Guytrash”, “Shriker”, “Padfoot”, “Gurt Dog”, Black Shuk”, entre outros, são nomes diferentes dados a aparições desses cachorros, que datam desde à época do Rei Arthur – dizem que ele andava com uma matilha de cães pretos fantasmas em noites de inverno – e seguem sendo relatadas, aqui e ali.
Seria o “big wolf” do Ravenscraig uma dessas aparições?
Coincidentemente, o Castelo de Ravenscraig pertenceu, por quase 200 anos, à família Sinclair, donos do Castelo de Rosslyn.
Céticos dirão que deve ter sido alguma ilusão sensorial e auditiva conjunta, causada por fenômenos físicos explicáveis (assim, em termos bem abstratos mesmo, que nada explicam). Acho engraçado como a tentativa de explicação “racional” acaba sendo, às vezes, mais improvável e ilógica do que a explicação “irracional”. Mas, no humilde reconhecimento de que só sei que nada sei, aceito que possa sim ter sido algo diferente da certeza que tive. Ou não…
Cristina Lima
Muito legal !!! Adoro essas postagens !
Ana
Sensacional, Anelise.
Queria ter conhecido esse lugar!
Paloma Casali
Velho…. nunca vou esquecer da história das batucadas na sua cabeça quando estavam procurando casa pra morar.
Helen
Eu acredito muito nessas energias guardiãs que permanecem nos lugares antigos, presos em uma eterna ilusão. Tadinho do animal. Meu pai, quando era jovem, teve uma visão de um grande cão negro numa estrada. Ele voltava de bicicleta a noite da escola. O cão estava parado no meio da estrada. Ele sentiu um arrepio e parou a bicicleta. Alguns segundos depois o animal, segundo meu pai, evaporou diante dele. Eu acredito no que ele disse pois não é bem um contador de histórias, kkk.
Michele Cristina Faria Clodomiro
Adorei a história Anelise!!!
Francieli
Adoro suas histórias Anelise
Fabiana Fioravante
Adoro seus textos e histórias! Que bom que você compartilha conosco, Anelise! Só continue! Rsrs. E, claro, não foi nenhum fenômeno físico sentido em conjunto! ; )