O Clube de Livros escocês

Eu sempre achei clubes de livros o máximo! Via em filmes, seriados, e imaginava o quanto seria legal participar de algo assim. Mas nunca tive a iniciativa de começar um, no Brasil, talvez porque minhas amigas mais entusiastas da leitura morassem longe, geralmente, ou talvez pelas fases da vida que não colaboravam. Enfim, o desejo ficou jogado em um cantinho. 

Até que, no início do mês passado, uma amiga escocesa me falou de um livro que estava lendo, me contou que fazia parte de um book club e perguntou se eu queria participar. Of course que eu queria!!! São 3 livros por mês, e ela me emprestou o que já tinha lido pra eu começar logo, mas me disse que não tinha problema se eu não conseguisse ler os três, não era obrigatório, cada uma lia o que conseguia. Me desafiei a ler dois (considerando que comecei tarde) e voilá, consegui. Ela me explicou que o clube se reúne todos os meses, na biblioteca, com chá, bolinhos e biscoitos, pra discutir os livros que foram lidos e pegar os livros a serem lidos a seguir.

O tema de janeiro era “inverno”, e os livros eram:

Este é uma leitura leve, bem interessante, dinâmico e com cenas engraçadas. A leitura foi rápida e me pareceu um daqueles livros de verão (apesar de se passar no inverno), que a gente lê pra se distrair mas fica genuinamente curiosa com a história. 

Não encontrei nenhuma versão em português vendida no Brasil, mas pra quem se interessar e quiser em inglês mesmo, tem aqui: https://amzn.to/2v5qtW9

O segundo livro é levemente perturbador:

Eu cheguei a comentar sobre ele, lá na página do facebook. A maior parte da história se passa em uma ilha isolada na Escócia, de muito vento e tempestade, e o livro é um suspense emocional com um toque sobrenatural. Talvez por ter um filho da mesma idade que a menina do livro, mas meu coração doeu por ela o tempo todo, e por toda a confusão que ela passou. E o final, embora muito bem pensado e viciante na sequência em que se desenrolou, teve um aspecto que não me pareceu crível (se mais alguém leu e quiser trocar impressões, me escreva). Mas consegue passar muito bem toda a confusão, todo o sofrimento, e tem um passo rápido, de filme – inclusive, li que vai virar filme. 

Pra quem se interessar, ele existe em português, link aqui: https://amzn.to/2tDna8m

O terceiro eu não tive tempo de ler, ele era enorme, então nem comecei, mas se passa no início do século XX, parece, e é sobre expedições ao Ártico. Esqueci o nome, sorry, mas se quiserem consigo descobrir. Minha amiga me disse que, apesar do tom histórico, o livro tem um toque de “cinquenta tons de cinza”, é bastante gráfico e descritivo nas cenas de sexo, e que ela riu imaginando as velhinhas do book club lendo esse livro.

E aí chegou o dia do encontro, e eu estava animada pra participar. Fora eu e minha amiga (que está no início dos 40), todas as outras 7 ou 8 participantes têm a cabeça branquinha, branquinha. Lembrei da Silvia (que escreve aqui no blog) me falando que acha a coisa mais linda as velhinhas daqui, com as cabeças bem branquinhas, o cabelo sempre ajeitadinho e sempre tão elegantes, com calças de alfaiataria e sapatinhos. E mesmo no friozão usam tailleurs ou casaquinhos de tweed, nada de jaqueta de neve ou tênis, e sempre com o passinho curto e as bolsinhas a tiracolo. Elas são mesmo uma graça, essas senhorinhas. 

E lá estavam elas, arrumadas e muito polidas, ao redor da mesa de chá, prontas para conversar sobre os livros. Fui apresentada para o grupo, e elas acharam o máximo eu ser do Brasil. Uma delas falou “Nossa, você veio de muito longe mesmo, heim?”, e a outra brincou “Espero que não tenha viajado tanto só pra vir aqui hoje”. 

Serviram o chá e começamos. A organizadora mostrou o primeiro livro a ser discutido. “Qual era esse mesmo?”, uma velhinha perguntou. “Também não lembro…”, a outra falou. Eu ri por dentro enquanto a organizadora falava um resumo pra ajudá-las a lembrar (o das gêmeas, da ilha na Escócia…) 

“Ah sim, lembrei, eu li sim. Mas não gostei”. 

Outra disse “Eu me incomodei com os personagens e parei na metade”. 

Outras falaram que tinham gostado. Eu falei que gosto de mistérios e achei interessante mas realmente me incomodei com isso e aquilo outro. Todas disseram algo e aí uma delas comentou que estava lendo um livro muito bom da mesma autora. Quiseram saber o nome. 

“Eu tenho aqui, no meu celular. Minha filha me deu um celular, esperem que já olho”. 

Ela abriu a bolsa, tirou uma caixinha, abriu a caixinha, tirou os óculos. Colocou a caixinha dos óculos de volta na bolsa, tirou outra caixinha, abriu, tirou o celular de dentro, colocou-o sobre a mesa e guardou a caixinha do celular na bolsa. Tudo sem pressa nenhuma. Afastou o celular dos olhos, esticando o braço, e começou a mexer nele, enquanto todas aproveitavam pra pegar um pedaço de bolo ou um biscoito e conversavam sobre outras coisas. Minutos depois, ela guardou o celular na caixinha e reiniciou o processo de guardar coisas em caixinhas e depois guardar caixinhas na bolsa. 

“E aí?”, uma delas perguntou. “Qual o nome do livro?” 

“Não sei”, ela disse. “O celular não me deixa ver”. 

Falaram mais um pouco e seguiram para o próximo livro, o do Ártico, que era enorme e de capa dura. Uma velhinha, bem magrinha e delicada, daquelas que a gente fica com medo de quebrar, comentou, baixinho: “Ah, eu não li esse… Era grande e pesado demais, não consegui levar pra casa…”

A organizadora deu o resumo, para as outras lembrarem, que era no Ártico e tals, Mas foi só quando a minha amiga ajudou e falou que tinha cenas muito picantes, com descrições gráficas, que a maioria das velhinhas fez aquela cara de “Ah, lembrei!”. E eu nem lembro bem o que comentaram sobre este livro porque eu estava ocupada demais fazendo um esforço sobrenatural pra manter uma expressão de normalidade diante dos esquecimentos e dos comentários!!

Depois discutiram aquele outro, “Seven Days of Us”, que era mais leve, e todas disseram ter gostado bastante.

A organizadora apresentou, então, os próximos três livros a serem lidos, e disse que este mês não tem um tema muito específico mas são todos de autores escoceses. Eu e minha amiga resolvemos compartilhar os livros, ao invés de cada uma pegar os três, que aí sobram mais cópias na biblioteca. 

Vou começar por este:

É um romance-suspense, que conta a história de uma mulher que foge do marido abusivo e se esconde em um vilarejo nas Highlands, onde conhece uma familia que também está fugindo de alguma outra coisa, e algum acidente entrelaça os destinos deles. Segundo a organizadora, uma das histórias de fundo é a do referendo da independência, porque um dos personagens principais é político do partido nacionalista. 

Também não achei este em português, só em inglês: https://amzn.to/37ZvIoV

Os outros dois estão com a minha amiga, e eu confesso que não lembro os nomes porque ainda estava rindo por dentro quando saí da biblioteca então não prestei a atenção que devia! Mas um deles é uma autobiografia de uma mulher de Orkney e o outro é um suspense que se passa em Campbeltown e arredores – acho! –  aquela região de whisky. 

Enfim, eu amei meu clube dos livros, elas são todas adoráveis e divertidíssimas (mesmo quando não é proposital!), essa coisa de os livros terem um tema comum e poder discuti-los com quem também leu é demais, e eu estou muito, muito contente com esse meu sonho finalmente realizado de fazer parte de um book club!

Então, segue uma valiosa dica de vida pra quem gosta de ler: se animem e entrem em um! Ou iniciem um! E se tiver chá e bolo também, me convidem.