A maioria das pessoas que vem para a Escócia a passeio acaba se deparando com o famoso haggis, o quitute nacional. Às vezes, ele aparece disfarçado, no saudável café da manhã escocês:
Ou acompanhando o purê de batata:
Ou inteiro, em toda a sua glória e sua beleza fora dos padrões culinários:
O haggis é tão celebrado por aqui que é parte central de uma das maiores festas nacionais, como expliquei no post sobre a Burns Night. Feito de órgãos de ovelha moídos, misturados com especiarias, cozidos no sangue e assados no estômago, é o tipo de prato que gera reações extremas: ou as pessoas amam, ou não podem nem sentir o cheiro (meu caso).
Acontece que, se você for um turista ingênuo que não lê este blog (já alertei mais de uma vez para os perigos de não se ler este blog), e perguntar, inocentemente, para os escoceses, o que é um haggis, existe uma chance de eles te contarem que haggis é um pequeno animal selvagem das Terras Altas escocesas.
(E coloquei a afirmação acima em negrito para alertar sobre os perigos de se passar rápido por um post, não ler tudo com atenção, e focar só no que está em negrito. )
Segundo esta versão, o haggis possui uma perna curta e outra comprida, o que faz com que consiga correr com facilidade ao redor de montanhas acentuadas, mas também faz com que seja fácil capturá-lo: basta correr ao redor da montanha na direção oposta e encontrá-lo, já que ele não consegue se virar para escapar. Outra maneira de caçá-los com sucesso é montando uma arapuca com whisky como isca.
Dizem que existem duas espécies diferentes de haggis, uma com a perna esquerda mais longa e outra com a perna direita mais longa. Esses só conseguem se mover em círculos no sentido horário e, aqueles, no sentido anti-horário. As duas espécies coexistem pacificamente mas não conseguem cruzar por causa da diferença nas pernas, que faz com o macho de uma espécie não consiga se posicionar sobre a fêmea da outra espécia sem perder o balanço (e toda a dificuldade de movimentos em círculos atrapalha também). Por causa disso, as diferenças nos tamanhos das pernas de cada espécie são mais acentuadas a cada geração. (Existe um animal folclórico parecido na América do Norte, o sidehill gouger.)
Haggis também não enxergam muito bem tons de tartan, o que faz com que o padrão seja uma ótima camuflagem para caçadores. Portanto, se você avistar um escocês completamente vestido em tartan, carregando whisky, passando sorrateiramente pelo mato, é muito provável que ele esteja caçando um haggis.
Quem não acredita na história é desafiado a ver algum dos vários haggis empalhados que existem país afora, inclusive no principal museu de Glasgow:
E, como mais uma prova, seguem essas fotos que bati de um açougue daqui que vende haggis frescos, caçados localmente. 😁
Quem já provou haggis? O que achou?
Gianandrea
Praticamente uma lenda “viva “ escocesa então??? Pelo visual, estou aqui associando o quitute com outra brasileiríssima: a buchada de bode… e o sarapatel. E viva a criatividade humana na arte da gastronomia, sqn. 😉
Observação importante: não sou vegana, nem vegetariana, mas adepta de pouca proteína animal.
Anelise
Sim, a ideia é basicamente a mesma da buchada: aproveitar todas as partes do animal. É sustentável, temos que admitir, mas o conceito realmente faz muita gente torcer o nariz. Eu nunca provei (vegetariana), mas quem gosta de carne acaba achando bom sim, porque é bem temperado e etcs.
O melhor é mesmo a lenda do haggis selvagem!
Mônica
Comi e adorei! É só não ter preconceitos. Uma iguaria deliciosa!