Categoria: Reflexões Page 4 of 5

Remembrance Sunday

Há pouco mais de dois anos, o Pedro chegou em casa da escola me dizendo que precisava levar dinheiro no dia seguinte para comprar uma flor de papel. Me explicou que os meninos da sexta-série estavam vendendo, que era colorida e que ele precisava comprar porque quem tivesse a flor viveria para sempre. E ele queria viver para sempre, então precisava da tal flor de papel. Precisava levar dinheiro pros meninos da sexta-série urgentemente!! E não soube me dar mais nenhum detalhe ou explicação. 

Minha cabeça de mãe brasileira já pensou: “É golpe! ” E imaginei que os meninos da sexta-série estivessem passando a conversa nos pequenos. 

Falei pra ele que, na manhã seguinte, levariamos o dinheiro e ele me apontaria os supostos meliantes. Mas, assim que chegamos, vi uma poppy no peito de uma das crianças e entendi tudo. 

Como ser um bom turista na Escócia – e no resto do mundo

Um post assim pode parecer desnecessário pra muita gente, mas infelizmente nem todo mundo sabe ser um bom turista. Tudo bem, afinal, ninguém nasce sabendo e ninguém é obrigado a saber de tudo! Eu mesma já cometi tantos erros, por pura falta de informação, por ignorância mesmo, e me corrigi assim que tive ciência das coisas. Mas vamos ao cenário que inspirou este post:

Clava Cairns é um dos sítios arqueológicos da Idade do Bronze mais bem preservados do Reino Unido, construído há mais de 4000 anos atrás. Além de ser um local de sepultamento, também acredita-se que tenha sido usado em cerimoniais religiosos:

Clava Cairns

Antes visitado apenas por amantes de História e Arqueologia, Clava Cairns tem entrado com frequência em roteiros turísticos de fãs de Outlander desde que alguém resolveu dizer que o local teria inspirado Diana Gabaldon a criar o fictício círculo de pedras Craigh na Dun. Eu acho que isso é pura jogada de marketing turístico, já que Diana só visitou o local bem depois de ter publicado o livro e já mencionou que, se Clava Cairns tivesse inspirado Craigh na Dun, ela teria incluído os cairns (estruturas de pedras) na descrição do mesmo.

Singela lista de coisas que tem aos montes no Brasil mas que nunca vi aqui:

Além de “sol e calor”, obviamente. 😅

  • Restaurante a quilo;
  • Motoboy (aliás, motos são raras de se ver);
  • Acostamento (existem espaços de paradas ao longo da rodovia, mas não acostamento);
  • Ultrapassagens pelo acostamento (isso dava muita raiva);
  • Gatos e cachorros de rua (existem sim bichinhos abandonados, mas são todos recolhidos, não se vê nenhum solto andando pelas ruas);
  • Pet shop vendendo gatos e cachorros (aqui é bem regulamentado, só criadores podem vender. Mesmo assim, existe contrabando e imensas maldades com animais, mas não podem ser vendidos em lojas);
  • Babás com uniformes (sabe aquelas madames que fazem as babás usarem uniforme branco o tempo todo? Impensável por aqui);
  • Estudantes de medicina, odonto, enfermagem, nutrição e etcs desfilando pela rua de jaleco (sabe esses também? Igualmente impensável);
  • Centro espírita, terreiro de umbanda, igrejas evangélicas (Church of Scotland de balde, algumas igrejas católicas perdidas aqui e ali, uma e outra Testemunha de Jeová, e um Centro de Cientologia em Edimburgo)
  • Carros com porta-malas aberto e som a todo volume em praças, postos de gasolina, praias, etc (Impensável também)
  • Vendas de catálogo em casa tipo Avon, Natura, Hinode e afins;
  • Síndico de prédio (os prédios aqui não possuem síndico e nem condomínio. A organização é meio anárquica/societal….quando algo precisa de conserto, algum morador toma a frente e organiza uma vaquinha… sem crises, geralmente);
  • Reunião de condomínio (vide acima);
  • Porteiros em prédios;
  • Guardas em casas;
  • Vigias nas ruas;
  • Muros altos nas casas (a maioria tem muros baixos. Quando possuem muros altos, é por algum motivo específico. Por ex, a casa da JK Rowling, em Edimburgo, tinha um muro verde de mais de 2 m de altura);
  • Lotérica (conta se paga por internet banking, e apostas se faz em mercado, postos de gasolinas, lojinhas de esquina);
  • Bancas de revista (jornais e revistas se compra nos mercados, postos de gasolina, lojinhas de esquina)
  • Boleto bancário (a gente se livra deles aqui, nas não das contas, infelizmente)
  • Carnê de parcelamento em lojas, tipo Casas Bahia, Renner, etcs (ou você paga à vista, ou não compra. Exceção para algumas pouquíssimas coisas, quando o parcelamento é então através do banco);
  • Parcelar no cartão (não existe comprar parcelado no cartão. Compra-se à vista e, se necessário, paga-se apenas a parcela mínima do cartão todos os meses, o que, na prática, acaba sendo um tipo de parcelamento);
  • Guardas armados em portas de bancos (nunca vi; nem detector de metal)
  • Policiais armados (Vi apenas uma vez, em Edimburgo, nos dias seguintes a uma ameaça de bomba);
  • Cartório (contratos geralmente não exigem reconhecimento de firma, e autenticação de documentos pode ser feita por advogados);
  • Panfleteiros (a não ser na Universidade, ou durante o Fringe!);
  • Vendedores e malabaristas no semáforo;
  • Camelôs e vendedores de rua no geral (só em feirinhas. Nem pensar um cara sentado em um banquinho vendendo óculos de sol relógios e chips de celular);
  • Caroneiros (nunca vi ninguém pedindo carona nas estradas);
  • Cobrador e catraca em ônibus (o próprio motorista cobra e emite o ticket);
  • Salgadinho de festa (ao invés de coxinha e pastelzinho, sanduichinhos de pepino e palitos de cenoura);
  • Bater palmas ao cantar “Parabéns”, e depois também, e o “É big, é big…” ou o “Com quem será…” (aqui se canta um “Happy Birthday” baixinho, sem palmas, tranquilinho…. bem diferente daquela coisa ultra animada e sem fim do Brasil – que aliás prefiro!)
  • Festas chiques, caríssimas e mega decoradas para bebês de 1 ano (geralmente, é um bolinho em casa, no silêncio do “Parabéns” baixinho – acho até que bebês preferem assim)
  • Chás de bebê chiques, caríssimos e mega decorados (aliás, chás de bebê nem são tão populares assim);
  • Buzinar para agradecer, ou para cumprimentar (buzina é “alerta”. Quando a gente quer agradecer algum carro que deu passagem, ou cumprimentar alguém, um leve aceno com a mão é suficiente);
  • Vendinhas de beira de estrada (sabe o caldo de cana com pastel na BR? Impensável… infelizmente!)
  • Senha no banco (os britânicos gostam é de fila mesmo);
  • Furar fila (ah, nem tente!)
  • Cadeiras e mesas de plástico de marcas de cerveja;
  • Postes de luz com fios emaranhados e “gato” (a gigantesca maioria é subterrânea. Não os “gatos”, a luz);
  • Frentista (a gente mesma abastece o próprio carro e depois entra na lojinha para pagar o valor. Ou, alternativamente, paga com o cartão na própria bomba);
  • Flanelinha (sabe aquele que sinaliza dizendo “aqui, ó tia, pode deixar aqui que tá bem cuidado!” e depois tem que dar um troco pra ele? Não existe aqui);
  • Trotes de vestibular (sabe aquele cara descalço, com cara pintada, que fica no semáforo segurando placa de “calouro” e pedindo dinheiro porque é calouro? Aqui, só se a cara fosse pintada de azul, a placa fosse de “Yes!” e o cara fosse um independentista completamente bêbado!)

Mora ou já morou na Escócia e lembrou de mais alguma? Me conta pra que a lista fique mais completa. 😉

Na Universidade de Edimburgo: um PhD entre impostores, Darwin e grandes mulheres.

Em setembro passado, eu me tornei aluna da Universidade de Edimburgo, depois de ser aprovada na seleção para um doutorado em política e relações internacionais. 

Fundada em 1582, a Universidade é quarta mais antiga da Escócia (perde para as de St Andrews, Glasgow, e Aberdeen) e a 6ª melhor da Europa. No Reino Unido, fica atrás somente das universidades de Oxford e Cambridge. Charles Darwin, David Hume, Peter Higgs, Arthur Conan Doyle, e Sir Walter Scott estudaram aqui, bem como 3 primeiros-ministros e 19 ganhadores do prêmio Nobel. Da Universidade de Edimburgo saíram descobertas e invenções como as da anestesia, do telefone, do dióxido de carbono, da fertilização in-vitro, e das vacinas do HPV e da Hepatite B.

A Universidade possui até um tartan próprio!

Tartan da Universidade de Edimburgo

Então imaginem eu, um humilde fruto de Araranguá, sentada em um salão vitoriano enorme, em uma construção do século XVIII, no primeiro dia de orientações e pensando, incrédula, “O que é que eu estou fazendo aqui?” Eu nem tinha grandes esperanças de passar, fiz a seleção como um treino. Pensei que aplicaria todos os anos, pra ir treinando e aprimorando a proposta de pesquisa e que, daqui a uns 5 anos, talvez eu tivesse chance de passar. Mas foi assim, de primeira. Muita sorte. Eu olhava em volta, olhava pra todos os outros, com caras de altamente inteligentes e qualificados e pensava: “Nossa, eu devo enganar muito bem mesmo….”. E fiquei bem quieta pra ninguém descobrir que eu era uma farsa…

Honestidade: no Brasil, na Escócia, na vida.

Eu cresci no Brasil, acostumada a ver as pessoas reclamando da corrupção, da bagunça, de como nada funciona. Acostumada, como a maioria, com o “jeitinho”, com a malandragem, com o “rouba mas faz”, com o “achado não é roubado”. “O mundo é dos espertos”, e os honestos, por consequência, são os trouxas que nunca que são bem.

Felizmente, como muitos de nós, fui educada para fazer diferente. Minha mãe costuma dizer que não existe meia honestidade; ou se é inteiramente honesto, inclusive nas pequenas coisas, ou não se é. Fui ensinada a devolver o troco errado, a tentar encontrar o dono da carteira perdida, e a pagar cada centavo que devo. Mas também fui ensinada a “não dar bobeira” e a “ficar esperta”, pra não “cair no conto do vigário”.

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