Apesar de ter sempre morado perto do mar, eu nunca fui de curtir a praia da maneira mais popular: se esquentando no sol e se refrescando na água. Pra mim, a praia sempre teve mais graça no outono e no inverno, quando ficava vazia e eu podia simplesmente andar por ela, sentindo a areia gelada sob os pés descalços, escutando o barulho das ondas e dos pássaros, enquanto pensava em coisas da vida ou examinava a areia, em busca de conchinhas e outros “tesouros” que a maré traz.
Mas aqui na Escócia tem uma coisa que eu nunca encontrei nas praias do sul do Brasil: vidros marinhos.
Diz a lenda que, a oeste da ilha de Rousay, em Orkney, existe uma ilha misteriosa que aparece e desaparece. Embora muitos locais afirmam já ter visto a ilha, em dias claros, ninguém consegue chegar até ela.
Há muito, muito tempo atrás, uma moça desapareceu, perto da costa. Família e amigos procuraram em terra e mar, inutilmente, e acabaram acreditando que estava morta.
Anos depois, o pai e o irmão da moça estavam pescando, em seu barco, quando uma névoa densa cobriu o mar. Eles não conseguiam ver nada além de uns poucos palmos de distância, e não faziam ideia de para onde a maré os estava levando.
Há pouco mais de dois anos, o Pedro chegou em casa da escola me dizendo que precisava levar dinheiro no dia seguinte para comprar uma flor de papel. Me explicou que os meninos da sexta-série estavam vendendo, que era colorida e que ele precisava comprar porque quem tivesse a flor viveria para sempre. E ele queria viver para sempre, então precisava da tal flor de papel. Precisava levar dinheiro pros meninos da sexta-série urgentemente!! E não soube me dar mais nenhum detalhe ou explicação.
Minha cabeça de mãe brasileira já pensou: “É golpe! ” E imaginei que os meninos da sexta-série estivessem passando a conversa nos pequenos.
Falei pra ele que, na manhã seguinte, levariamos o dinheiro e ele me apontaria os supostos meliantes. Mas, assim que chegamos, vi uma poppy no peito de uma das crianças e entendi tudo.
Em dezembro de 1998, um mendigo andava rapidamente pelas escuras ruas da cidade velha de Edimburgo. Buscando um abrigo da chuva, que ficava cada vez mais forte e mais gelada, ele entrou no cemitério de Greyfriars e forçou a porta de um antigo mausoléu. Dentro, em meio à escuridão, ele retirou uma grade de metal que dava acesso a uma espécie de porão, e desceu por uma curta e estreita escada de pedra.
Outubro, mês de Halloween e de contar “causos” misteriosos. 👀
Este aconteceu comigo e com o Pedro, meu filhinho, nas ruínas do castelo Ravenscraig. Construído em 1460, este castelo é relativamente pequeno, e fica estrategicamente localizado no alto de um penhasco, de frente para o estuário de Forth. Nós já havíamos estado lá antes, mas desta vez voltamos com a minha mãe. O dia estava frio, nublado, e sem vento.
O espaço das ruínas deste castelo basicamente se divide em duas partes: a torre principal e a parte aberta, onde antes ficavam construções térreas e onde o muro circunda a pequena parte do penhasco. Minha mãe estava nesta última parte, batendo fotos da vista para o mar, e eu estava seguindo o Pedro, que na época tinha 4 anos, pela parte ao redor da torre. Não há como entrar em lugar algum nesse castelo. Todos os acessos para o interior da torre estão fechados com grades, por segurança.
O Pedro estava brincando de “eco”: ele parava em frente a uma porta dessas, fechada com grade, gritava “Helloo!!” e escutava o eco da voz. Fez isso em uma porta, em duas, e paramos em frente da terceira. Tudo escuro lá dentro, mas parecia ter um corredor ao fundo, à direita. Continuando a brincadeira, ele gritou “Hellooo!!!”
E o que ocorreu a seguir foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceu.