[Postado no facebook, mas repetido aqui para que não se perca o registro. 😊]
Todos os anos, no verão, acontecem vários pequenos festivais em vilarejos aqui na Escócia. Essas fotos mostram um pouquinho do de Bo’ness, onde os moradores participam bastante, decorando suas casas para a competição. O festival, chamado Bo’ness Children’s Fair Festival é a data do ano mais importante do calendário deste pequeno vilarejo, e muita gente passa o ano inteiro planejando e preparando sua decoração para o grande dia.
O carrossel e o relógio foram os ganhadores deste ano. Quem não consegue fazer uma decoração mais sofisticada, coloca bandeirinhas coloridas.
Em 2004, quando Boris Johnson era editor da revista Spectator, ele publicou um poema que se referia aos escoceses como “uma raça de vermes” que merecia “exterminação total”. Era o tipo de texto que se pretendia satírico mas beirava, explicitamente, uma discriminação genocida. Nenhum escocês achou graça. Assim como também não acharam graça quando ele se tornou, recentemente, primeiro-ministro do Reino Unido.
Pra piorar, o mandato de Johnson aumenta, em muito, as chances de uma saída da União Europeia sem acordo – o tal do no deal – coisa que a maioria dos escoceses não deseja. Logo após sua vitória, Boris veio até a Escócia se reunir com a primeira-ministra daqui, Nicola Sturgeon, como é de praxe. Foi vaiado pelo público e teve que sair pela porta de trás depois da visita.
Em setembro passado, eu me tornei aluna da Universidade de Edimburgo, depois de ser aprovada na seleção para um doutorado em política e relações internacionais.
Fundada em 1582, a Universidade é quarta mais antiga da Escócia (perde para as de St Andrews, Glasgow, e Aberdeen) e a 6ª melhor da Europa. No Reino Unido, fica atrás somente das universidades de Oxford e Cambridge. Charles Darwin, David Hume, Peter Higgs, Arthur Conan Doyle, e Sir Walter Scott estudaram aqui, bem como 3 primeiros-ministros e 19 ganhadores do prêmio Nobel. Da Universidade de Edimburgo saíram descobertas e invenções como as da anestesia, do telefone, do dióxido de carbono, da fertilização in-vitro, e das vacinas do HPV e da Hepatite B.
A Universidade possui até um tartan próprio!
Então imaginem eu, um humilde fruto de Araranguá, sentada em um salão vitoriano enorme, em uma construção do século XVIII, no primeiro dia de orientações e pensando, incrédula, “O que é que eu estou fazendo aqui?” Eu nem tinha grandes esperanças de passar, fiz a seleção como um treino. Pensei que aplicaria todos os anos, pra ir treinando e aprimorando a proposta de pesquisa e que, daqui a uns 5 anos, talvez eu tivesse chance de passar. Mas foi assim, de primeira. Muita sorte. Eu olhava em volta, olhava pra todos os outros, com caras de altamente inteligentes e qualificados e pensava: “Nossa, eu devo enganar muito bem mesmo….”. E fiquei bem quieta pra ninguém descobrir que eu era uma farsa…
Hoje, eu vou contar a história dos serial killers mais famosos da Escócia. Para entendê-la, é preciso antes explicar que, no século XIX, Edimburgo estava se tornando um dos maiores centros de estudos médicos da Europa. O campo da anatomia estava a todo vapor.
O problema era que, segundo a lei escocesa da época, apenas corpos de prisioneiros, suicidas e não-identificados podiam ser usados para dissecação e estudo. E esses não eram suficientes para atender a demanda. Surgiu então uma nova profissão: a dos “ressurreicionistas”, que desenterravam corpos “frescos” dos cemitérios para vendê-los ilegalmente para os professores e pesquisadores da universidade. O preço pago por corpo dependia da estação, mas variava entre 7 e 10 libras (o que, na época, era um dinheirão!).
Quando nos mudamos para o vilarejo onde moramos agora, o Pedro tinha 3 anos. Ele dizia para as professoras e coleguinhas que era de “Edimbra” (Edinburgh, pronunciado como um local). Justo, havíamos mesmo vindo de lá, onde moramos por um tempo. E, embora eu explicasse, ele não tinha muita noção do que era o Brasil.
Aos 4 anos de idade, ele veio me contar sobre um coleguinha novo:
“O Santiago nos contou que o pai dele é do Chile! Isso não é incrível?!!”, me disse, empolgado.
“Mas, Pedro, e nós somos do Brasil, que é do lado do Chile, isso não é legal também? Você pode contar isso pra eles, que você é do Brasil”.