É complicado, para quem vem do Brasil, entender a composição política do Reino Unido. A Escócia é um país separado, localizado acima da Inglaterra, e que se ufana de ter sua própria língua – o escocês e o gaélico escocês são línguas oficiais, junto com o inglês –, bandeira, cultura, história e tradições.

Há mais de 300 anos, a Escócia faz parte, junto com a Inglaterra, a Irlanda do Norte e o País de Gales, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. O Reino Unido também é considerado um país, por isso a confusão. As leis, a moeda, a representação internacional e a coroa são uma só, e o poder está centralizado em Londres. Na prática, funciona como se esses quatro países fossem estados do Reino Unido, esse sim um país soberano.

Só que muitos escoceses não gostam desse arranjo político e gostariam de ser totalmente independentes, com autonomia total para fazer suas próprias leis e se autogovernar, como de fato foram por centenas de anos antes da união.

A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, é do partido nacionalista, cujo objetivo central é promover a independência. Em setembro de 2014, junto com seu partido, conseguiu realizar um referendo em que 55% das pessoas votaram para não sair do Reino Unido e 45% votaram pela independência.

Assim, tudo continuou como estava. Até junho deste ano, quando um referendo em todo o Reino Unido apontou diferenças de opiniões significativas entre a Escócia (e Irlanda do Norte) e o resto do Reino Unido. Na consulta para saber se as pessoas eram favoráveis à saída do Reino Unido da União Europeia (posição conhecida como Brexit), os escoceses votaram que não, e o Reino amanheceu “dividido” por um resultado que impressionou pelas cores no mapa de votação (percebam que o mapa da Escócia está certinho todo em amarelo):

Um argumento muito utilizado pela primeira-ministra é que a Escócia preferiria ficar na União Europeia a ficar no Reino Unido, embora países como França e Espanha já deixaram claro que bloqueariam sua entrada na União Europeia, porque não querem abrir precedentes para países separatistas.

Além da União Europeia, muitas outras opções têm sido faladas aqui e ali. Uma delas seria a de uma Escócia independente fazer parte de uma liga comercial dos países nórdicos, junto com Islândia e Noruega, por exemplo. Outra opção interessante – mas sonhadora – seria a de se juntar à Irlanda e à Irlanda do Norte para formar uma União de Países Celtas. Os defensores de uma Escócia livre garantem que o país teria plenas condições de prosperar sozinho, principalmente por causa das grandes reservas de petróleo que existem no Mar do Norte.

As discussões prometem ficar ainda mais acirradas, mas a verdade é que, como em quase tudo na política, é impossível ter certeza de quais seriam os desdobramentos de uma independência, por mais atraente que isso pareça. O apelo por liberdade é sempre forte, e ainda mais aqui, no país do William Wallace (quem lembra do Mel Gibson gritando “freedom” no filme “Coração Valente”?).

Enfim, o assunto é extenso e controverso. Todo dia se lê, nos jornais daqui, algo sobre o Brexit, sobre um segundo referendo de independência, sobre a Nicola desafiando a May (primeira-ministra do Reino Unido), como também sobre os desafios e as possibilidades de ficar e sair tanto da União Europeia quanto do Reino Unido. A verdade é que, se a situação do pós-Brexit ficou incerta para os ingleses, ficou ainda mais incerta para os escoceses.