Mother Shipton, a profetisa de Yorkshire e a atração turística mais antiga da Inglaterra

Preciso abrir uma exceção neste blog, que é – como mesmo os menos atentos podem perceber – sobre a Escócia, para incluir uma história da vizinha Inglaterra. Mas achei que Mother Shipton merecia um post completo.

Recentemente, fizemos uma pequena viagem para a região de Yorkshire, na Inglaterra, e foi cheia de felizes surpresas (quem me acompanha lá no instagram @vidanaescocia viu bem) que foram de templos druidas a vikings, passando por poções mágicas e bruxarias. Acrescentando a este último assunto, está a Mother Shipton’s Cave, a atração turística mais antiga da Inglaterra, que recebe turistas desde 1630!!

Localizada na pequena cidade de Knaresborough – que, aliás, é uma graça!, esse lugar está cheio de coisas “mágicas” e histórias interessantes.

Tudo começou em 1488, quando, grávida aos 15 anos de idade, Agatha Sontheil se recusou a revelar o nome do homem que a engravidara, mesmo após ter sido arrastada até o magistrado local e brutalmente interrogada. Banida do vilarejo e escorraçada pela sociedade, ela buscou abrigo em uma caverna, perto de um poço que as pessoas da época acreditavam ser amaldiçoado. O “poço petrificante” tinha estranhos poderes místicos: sua água petrificava tudo que tocava (isso mesmo, mas aguardem, que teremos a explicação!).

Ali, naquela caverna, perto do poço petrificante, Agatha deu à luz uma menina, a quem chamou de Ursula.

Eu me arrepio inteira só de pensar na dificuldade dessa jovem mãe, sozinha com uma bebê, em uma caverna, na Inglaterra do século XV. Mas Agatha se virou, e morou na caverna com Ursula por dois anos, até que uma família local decidiu acolher a criança, e Agatha foi para um convento, onde morreu poucos anos depois, sem ter visto mais sua filha.

{Pausa para a minha dor no coração 💔}

A pequena Ursula cresceu, com fama de ser “diferente”, e se casou, aos 24 anos, com um carpinteiro chamado Toby Shipton. Sempre cercada de rumores que diziam que ela era filha do demônio, bruxa e amaldiçoada, muitos acusaram-na de ter enfeitiçado o marido. Mas muitos mais a procuraram em busca de feitiços (ah, a hipocrisia humana….). Entendida de ervas e curas, Ursula ganhava a vida fazendo remédios e poções, e muitas vezes era procurada por outros motivos também.

Contam que, um dia, uma vizinha lhe pediu ajuda. Alguém havia roubado sua camisa de linho, nova. Naquela época, roupas eram itens caros e valiosos, equivalentes às joias de hoje. Ursula disse à vizinha que não se preocupasse, porque ela faria com que a pessoa que havia roubado a camisa a devolvesse no dia da feira. E, conforme previsto, a vizinha estava na feira quando, do nada, uma mulher se aproximou, com a camisa roubada em mãos, dançando e cantando “Eu roubei esta camisa. Eu sou uma ladra, e estou aqui para mostrar. Lalalá” (ou algo assim). E entregou a camisa à vizinha, cumprimentou-a e partiu.

É muito provável que Ursula soubesse quem havia roubado a camisa, e que tenha persuadido a ladra a devolvê-la, talvez ameaçando-a com seus supostos poderes místicos e demoníacos. De qualquer forma, este e outros acontecimentos semelhantes serviram para fortalecer sua reputação, e as pessoas passaram a acreditar que ela tinha mesmo poderes especiais, e que sabia de tudo, inclusive do futuro.

Conhecida como “Mother Shipton”, Ursula não teve filhos, mas ficou conhecida assim por respeito. Ela passou a fazer mais e mais previsões, acertando a maioria delas. Ela previu a construção de um moinho, a queda das torres de uma igreja em York, a morte de diversas pessoas, vários acontecimentos reais, conquistas, batalhas, etc. Ela profetizou eventos da vida de Henrique VIII e de Elizabeth I. Previu a execução de Mary, rainha da Escócia, e a união dos reinos por seu filho James VI (ou seja, o surgimento do “Reino Unido”).

Uma das predições que a alçou ao “estrelato” nacional foi referente ao Cardeal Wolsey, braço direito de Henrique VIII. Mother Shipton disse que ele veria York, mas jamais chegaria até a cidade. E, realmente, em 1530, o cardeal estava próximo de York, e já avistava a cidade, quando recebeu ordens de voltar a Londres, onde foi acusado de traição e morreu pouco tempo depois.

Entre suas profecias e visões, estavam coisas que aconteceram muito depois de sua morte, como o Grande Incêndio de Londres, em 1665, e a invenção de aviões, carros e telefones. Dizem que ela voltava frequentemente à caverna onde nasceu, para fazer suas profecias.

Ela previu sua própria morte, aos 73 anos. Pediu que não a enterrassem no cemitério da igreja e que não marcassem seu túmulo, para que este não fosse profanado.  Embora não seja possível comprovar todos os detalhes de sua vida e todas as histórias associadas a ela, Mother Shipton se tornou uma famosa figura lendária que, por séculos, nutriu o folclore local e a imaginação das pessoas. Vários livros foram publicados sobre ela e sobre as suas profecias.

Livro de profecias da Mother Shipton. Publicado, pela primeira vez, em 1641.

Uma caminhada pelo bosque, ao longo do rio Nidd, leva até a caverna onde Mother Shipton nasceu. Pelo caminho, existem umas esculturas interessantes, um parque para crianças e uma área de piquenique.

A caverna onde Mother Shipton nasceu.

Muito próximo à caverna, está o “Poço Petrificante” que, desde 1630, vem atraindo turistas maravilhados com o estranho fenômeno da água que “petrifica” tudo. Para o entendimento da época, isso era, provavelmente, obra do demônio ou de forças malignas. Em tempos mais modernos, também se acreditou que beber a água do poço petrificante poderia curar doenças de todo tipo. [dica: não beba!]

Objetos ficam pendurados na rocha por onde a água “petrificante” escorre para o poço, o que faz com que sejam, aos poucos, transformados em pedra:

Objetos, em diferentes estágios de “petrificação”.

A explicação científica para este fenômeno é a seguinte: esta água possui altas concentrações de calcita, com quantidade menores de sódio e magnésio. Esses minerais são depositados, pela água, nos objetos, aderindo a eles e, com o tempo, criando uma camada sólida que “petrifica” tudo.

A própria Mother Shipton aparece “petrificada”, dentro da caverna onde nasceu:

O Pedro achou um pouco assustador, e nem quis entrar na caverna. Acho que, se eu tivesse 8 anos, também ia pular essa parte.

Teria ela tomado muita água do poço petrificante? 😆

Quase ao lado da caverna, tem um outro poço, dos desejos. Por algum motivo, colocaram luzes coloridas nele, o que achei estranho, mas jogamos moedinhas e fizemos um pedido, como milhares de turistas antes de nós, ao longo de séculos. A água deste poço é, supostamente, mágica.

Poço dos desejos.

A atração “Mother Shipton’s Cave” ainda inclui um pequeno museu, com vários objetos petrificados, e uma lojinha que vende ursinhos petrificados, poções, água do poço dos desejos, manuscritos das profecias e várias outras coisinhas “bruxísticas”.

Pra completar um dia em Knaresborough, ainda se pode fazer um passeio de barco pelo Rio Nidd, ou subir até as ruínas do castelo:

Ou, ainda, caminhar pelo centrinho, onde existe uma estátua dela, a profetisa mais famosa da região:

Mother Shipton.

Mas tem uma profecia de Mother Shipton que ainda não se realizou: a do fim do mundo. Ela não mencionou uma data específica, mas disse que os dias de todos os humanos terminariam quando a famosa ponte da cidade caísse pela terceira vez…

Ela já caiu duas vezes.

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  1. Fabiana Rocca

    Que história mágica , e quanta sensibilidade para descrevê-la! Obrigada Anelise!!!

  2. Claudia

    Linda história!!! Muito bem contada por você,!!!! Adorei conhecer!!!

  3. Bernadete Praciano

    Nossa, adorei essa história. Tão bem detalhada e bem redigida. Agora vou pedir a Deus que a ponte não caia !

  4. Adriana

    amei a história.. melhor descoberta é seu blog e Instagram

  5. Gisele Endrigo

    Adorei! ❤

  6. Cristina Lima

    Muito legal ! adoro essas histórias

  7. janine

    Nossa a forma que voce contou esta historia ou estoria , nao se sabe, de uma maneira tao veridica que gostaria de encontrar com ela e saber de muita coisa .uhmmm…..kkk.
    So tenho a agradecer.
    Obrigada

  8. Adoro e viajo nas suas histórias.
    Um descrição perfeita Parabéns.

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