As escolas aqui, como na maior parte do mundo, dividem-se em primária e secundária. Pela regra, as crianças entram na primeira série da escola primária (Primary 1, ou P1, pra facilitar) no ano em que completam 5 anos de idade. Antes disso, frequentam a nursery, que é a pré-escola e geralmente fica nas escolas primárias. A divisão por idade fica mais ou menos assim: (“S” corresponde à escola secundária)
Eu expliquei um pouco sobre a nursery neste post que escrevi pro Brasileiras pelo Mundo. Mas, complementando um pouco, uma das coisas que eu mais gostava na nursery, além de todo o foco no livre-brincar e no grande contato com a natureza, era a pastinha que elas preparavam com as observações. Diferentemente do Brasil, as professoras da nursery daqui não interagem muito com as crianças. Elas são super gentis, ajudam as crianças em tudo que precisarem, mas a regra é deixá-las o mais livres possível. E o trabalho delas fica focado em organizar os espaços e brincadeiras e observar as crianças, fazendo anotações de tudo que consideram relevante. Algumas dessas fotos e observações iam para uma pastinha que os pais podiam sempre consultar, e que foram entregues no final da nursery pra ficar de lembrança. Alguns exemplos dessas anotações da pastinha:
Elas dividiam essas observações em categorias como “ciência”, “habilidades sociais”, “comunicação”, etcs.
Crianças que fazem 5 anos em novembro ou dezembro, se os pais quiserem, podem ficar um ano a mais na nursery e entrar no P1 só no ano seguinte, com os 5 anos completos. Meu filho faz aniversário em outubro, mas o ano letivo começou em agosto, então ele entrou no P1 com 4 anos de idade.
No início, me preocupei com isso. Não acho legal alfabetização precoce, achava ele muito novinho pra ficar das 9hs às 15hs na escola, em meio a todo um sistema formal e tals. Mas fui me tranquilizando quando percebi que aqui as coisas são diferentes e é tudo levado na base da brincadeira, respeitando os tempos de cada criança e incentivando mais do que forçando.
No final do ano letivo, teve uma pequena cerimônia pros alunos da nursery que iriam ingressar no P1 depois das férias de verão. Eles ganharam uma gravata da escola (faz parte do uniforme obrigatório a partir do P1) e um “passaporte”, que deveria ser preenchido durante as férias e entregue à professora no primeiro dia de aula.
Meses antes disso, a adaptação já acontecia, com a turminha fazendo visitas frequentes à futura sala de aula e à futura professora. Os pais também tiveram reuniões marcadas com ela e com a diretora, para instruções sobre essa nova fase da vida deles. Graças a isso, o primeiro dia de aula ficou menos assustador e a maioria das crianças se adaptou super bem. Durante as primeiras duas semanas, tiveram apenas meio dia de aula, e só depois passaram a ficar durante o horário completo.
A rotina ainda é muito parecida com a da nursery: as crianças chegam na escola, penduram casacos nos ganchinhos, trocam os sapatos de rua por sapatos indoor e vão para a sala de aula. Na entrada, fazem um sign-in, geralmente pegando uma plaquinha com o nome delas e anexando em um quadrinho de presença. Na metade da manhã tem um lanche leve, geralmente uma fruta ou barrinha de cereal (levamos de casa, na mochila) e uma caixinha de leite que a escola fornece mas os pais pagam. Despois brincam um pouco na parte de fora da escola, no parque e no gramado. Elas almoçam na escola, e podem levar a lancheirinha ou comer alguma das opções que a escola oferece. Geralmente tem opções quentes, como macarrão, peixe com batatas, e frias, como sanduíches. O Pedro geralmente escolhe um sanduíche de queijo sem o queijo (ou seja, almoça pão com manteiga…. 😂) E ele me conta que as “ladies” estão sempre tentando convencê-lo a provar outras coisas, o que é ótimo. (Thank you, ladies!!! Juntas na luta!! 💪)
Na maior parte do tempo, as crianças ainda são muito livres pra brincar bastante pelos espaços diferentes de aprendizado que têm. Mas já vão aprendendo os sons, reforçando números, brincando de somar e diminuir, fazem algumas brincadeiras que envolvem ciência e também estão aprendendo umas palavrinhas em francês.
Uma grande diferença da alfabetização aqui é que, ao invés de começar pelas vogais, como fazemos, e depois ir passando para as consoantes por ordem alfabética, eles aqui começam pela letra “S”, depois “A”, depois “T”… E a ordem que segue parece doida mas faz muito sentido para a língua inglesa.
Aí, com esses poucos sons, já vão formando as palavrinhas:
Eles aprendem a ler pronunciando fonema por fonema. E para as palavras mais usadas e que fogem da lógica do fonema (algo comum em inglês), eles aprendem elas inteiras, em blocos:
Aí começam a receber livrinhos pra ler em casa em que conseguem ler algumas partes, por ex este, em que os pais leem a parte em letras menores e pedem para os filhos lerem a parte maior:
Eles também têm um livrinho de matemática simples com atividades que fazem de vez em quando:
Essas coisas mais sistemáticas costumam ser passadas no início da aula, e depois as crianças ficam livres pra brincar pela sala. A professora vai observando e direcionando a incentivando os interesses que ela observa. A classe também é dividida em pequenos grupos de acordo com o avanço de cada um. Tem aluninhos que são naturalmente interessados e já estão lendo e escrevendo quase tudo. E outros que preferem correr ou fazer experimentos práticos e ainda não estão dando bola pras letras. E não tem problema nenhum nisso, o processo é bem gradual porque eles ainda são muito novinhos, então é tudo encarado de forma muito tranquila e sem neuras.
Mas nem tudo são flores. Muitos pais se incomodam com esse esquema de dividir as crianças em grupinhos informais, porque acham que algumas crianças podem perceber isso, entender que estão em um grupo mais ou menos avançado que o outro e se sentirem abalados por isso, em termos de autoconfiança. E também nem todo mundo escolhe deixar as criancas todos os dias na escola. Existe, ao menos neste primeiro ano, a opção de flexi-school, em que a criança fica em casa um ou dois dias na semana. Claro que ela pode perder algo em conteúdo, de fonemas, por exemplo, mas os pais adeptos deste esquema acreditam que, nesta idade, o benefício de não passar tantas horas na escola é maior.
Eu estou satisfeita com a educação daqui, por enquanto. Meu pequeno adora ir à aula, está super adaptado e eu percebo que todo mundo na escola tem uma preocupação imensa em garantir que as crianças, antes de mais nada, se sintam bem na escola. A preocupação com saúde mental e bem-estar aumentou muito nos últimos anos, e isso refletiu no currículo escolar de todo o Reino Unido. Veremos como serão os próximos anos. Vou contando por aqui. 😉
Cristina Lima
Adorei a matéria !!! Parabéns
Rafaela
Adorei o texto… É bom saber como é em outros países, podemos comparar com a nossa realidade…. bjss
Nádia
Olá, tenho a intenção de ir morar em Edimburgo, gostaria de saber um pouco mais sobre a adaptação escolar, minha filha hoje tem 12 anos e pelo que pesquisei existem diferenças de datas do ano letivo e não sei como seria avaliado o historico escolar dela porque com certeza a grade curricular seria diferente ou se eles apenas consideram a idade para saber em que ela escola ela entraria se na primaria ou no ensino médio.
Anelise
Oi Nádia, o ano letivo aqui começa em agosto. Não sei te informar como seria avaliado o histórico dela, isso teria que ser visto na própria escola mesmo. Geralmente as crianças iniciam o ensino secundário com 12 ou 13 anos, mas só a escola poderia te informar bem sobre o caso dela. Abraços!
Nádia
Muito obrigada pela atenção. Neste ano estaremos visitando Edimburgo e provavelmente visitaremos algumas escolas para verificarmos a documentação necessária. Grande abraço!!
Juliana Heinle
Nádia.. estarei em mudança para edimburgo no próximo ano e meu filho tem 8 anos.. se puder me dar dicas sobre as escolas e documentação ficarei imensamente grata. Abraços.
juheinle@gmail.com
Jannayna Gomes Silva Albuquerque
Ola ! quero saber se podem dizer quais as documentaçoes necessaria para matricular um menino de 5 anos? Moramos em Portugal e ele é Brasileiro, porem ja temos titulo com autorização para residencia e todos os documentos portugueses mas nossos passaportes são Brasileiros , ainda falta 1 ano para podermos pedir a cidadania.
Anelise
Oi!! Pelo que me lembro, precisa só de identidade dele e comprovante de residência de vocês.
Taiana
Ola, boa tarde!
Obrigada por dividir tuas experiencias, ajuda muito!
Atualmente resido em Milao, e talvez va para Edimburgo ainda neste verao. Tenho uma filha de 5 anos e meio, ela fala portugues e italiano, nada a ver com o ingles e isso me preocupa um pouco, porque aqui ela iniciaria o processo de alfabetizaçao.
Qual bairro de Edimburgo voce indicaria para residencia e escola? Sera que conseguiria entrar em contato com as escolas atraves de email?
Muito obrigada
Taiana
Anelise
Oi Taiana, dá pra entrar em contato com as escolas por email sim. Aqui, as crianças iniciam a primeira série no verão do ano em que completam 5 anos, então, se sua filha tem 5 e meio, ela iniciaria o P2, a segunda série por aqui. Pode ser que abram uma exceção para ela e a coloquem uma série atrás, porque é no P1 que as crianças são inicialmente alfabetizadas, embora de modo bem light, mas a maioria já sabe ler ao entrar no P2, ainda que de modo imperfeito. Você teria que conversar tudo isso com a escola, pra evitar que sua filha seja exposta a mais dificuldades que o necessário. Quanto a bairros, o ideal para famílias é evitar os bairros com maior índice de deprivation, que são geralmente onde as escolas são piores. Se quiser, me manda um email para vidanaescocia@gmail.com que te envio um link que categoriza bairros de Edimburgo de acordo com índices de acesso a saude, educação, empregos, violência, etcs, que aí você pode ir olhando e vendo se os locais são melhores ou piores.
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Sou a Amanda Da Silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.