Sendo mãe de criança pequena na Escócia – Parte 1: Como vestir uma criança no frio?

A pedido da Daniela Bohrer, que me conhece desde os 7 anos de idade, resolvi escrever esse post sobre maternidade. A Escócia me trouxe aprendizados especiais sobre ser mãe e me proporcionou muitas oportunidades para refletir sobre o assunto. Foi muito difícil parar de trabalhar, ficar com pouco dinheiro e enfrentar um inverno escuro e úmido, em outro país e sem nenhuma ajuda por perto, com uma criança de um ano de idade. Difícil mesmo. Antes de chegar, calculei que precisaria de três meses para nos adaptarmos, mas agora, um ano e meio depois, vejo que foram necessários mais do que doze. Bateu a solidão, a depressão e, posso dizer, alguns momentos de desespero.

Entretanto, recebi uma injeção de ânimo através de um precioso conselho.

Quando fazia aproximadamente um mês que estávamos em Aberdeen, em uma tarde, fui a um café organizado em um salão de uma igreja nas férias de inverno. Lá, fui acolhida por um simpático senhor que estava ajudando a recepcionar as pessoas e oferecendo as bebidas quentinhas e as fofuras doces, mais do que bem-vindas naquele dia chuvoso e frio. Mr. Robert. Durante nosso agradável bate-papo, ao descobrir que eu era cardiologista, ele me revelou que havia sido técnico em eletrocardiograma por muitos anos e que precisava me apresentar uma senhora: a Ms. Joan. Ela era viúva do Dr. David Short, o qual foi cardiologista da rainha Elisabeth II aqui na Escócia! Troquei apenas algumas palavras com ela, mas que foram marcantes, o que era de se esperar da sabedoria de uma senhora de quase 90 anos. Contei para ela, envergonhada, que eu havia me especializado em cardiologia no Brasil, mas que, no momento, “infelizmente” eu não estava trabalhando, eu estava “apenas” cuidando da minha filha. Então, essa senhora colocou sua mão no meu ombro e eu senti todo o peso de uma vida me tocar. Me olhou nos olhos serenamente e me disse, com firmeza e gentileza: “Isso é a coisa mais importante, querida!” (It is the most important thing, Darling!). Me calei com o dobro da vergonha e percebi que eu deveria rever os meus (pre) conceitos. Foi o primeiro passo para a liberdade. A liberdade da culpa por não trabalhar, diga-se de passagem, mas não a liberdade das preocupações… E três coisas me traziam muita ansiedade: Como vestir uma criança no frio? Como planejar a alimentação dela? O que fazer com ela nas horas de lazer?

Vou falar sobre como lidei com cada uma dessas questões em posts separados, para esse não ficar muito longo. Vamos então falar sobre a “vestimenta”.

Sei que, em geral, para as mulheres, o quê vestir pode ser realmente um drama. Mas para mim, como mãe, vestir a Milena no clima escocês é que era um tormento. Simplesmente porque eu não tinha como saber se ela estava confortável. Quando chegamos aqui, ela ainda não sabia falar, muito menos identificar o que é sentir calor ou sentir frio. Além do mais, o chão do nosso flat era muito frio e ela não caminhava, só ficava sentadinha ou engatinhando. Um pesadelo. Eu colocava muuuitas camadas de roupas nela. Eu havia trazido algumas roupas de inverno do Brasil para os primeiros dias, esperando comprar as roupas mais quentinhas aqui. Para a minha surpresa, não encontrei com facilidade muita coisa de lã, nem blusinhas de gola alta, nem calças quentinhas… então pedi ajuda para uma atendente de uma loja especializada: “como vocês vestem as crianças aqui?”, ela, muito simpática respondeu: “escolha coisas de cashmere, que são quentes e fininhas e cheque se os casacos são forrados com fleece… mas, na verdade, não se preocupe muito com isso! As crianças ficam bem!”… Aham… eu pensei. Aquilo não me tranquilizou…

Eu vestia ela mais ou menos assim: um body de manga longa, uma blusa de lã de gola alta e um blusão ou casaco. Em baixo, uma legging fininha e uma calça de lã. À noite, mantinha o body e a legging e colocava um macacão de dormir de fleece e duas meias sempre (*O body por baixo ela usou até os 2 anos e meio). Para sair de casa, logo eu comprei uma jaqueta, conforme a moça da loja havia recomendado, e achei que ela estaria bem protegida para irmos na beira da praia de Stonehaven. Chegamos na estação de trem da cidade e decidimos ir a pé até o centro da cidade, depois que constatamos que não era tão longe. E a Milena ali… com muitas camadas de roupa, com sua jaqueta e sua touca, dentro do saco de fleece do carrinho e com a capa de plástico para proteger do frio e da chuva. Tudo ia bem até que ela abriu o maior berreiro e queria ir no colo a qualquer custo, para meu desespero, pois as perninhas não estavam tão aquecidas e havia começado uma chuva bem fininha !!! Foi uma tensão… e o nariz dela ficando vermelhinho… resultado: voltamos para Aberdeen porque a mãe não conseguiu suportar a ideia de que a filha estava passando frio. Próximo passo: Macacão forrado! Agora sim, podíamos sair sem nos preocupar! Mas, não contente, na consulta com a Health Visitor, eu obviamente perguntei sobre as roupas. Ela deu uma dica bem legal que foi colocar a mão no peitinho da criança, por dentro da roupa, e sentir se está aquecida ou não. Se estiver frio, aí sim você deve colocar mais um abrigo. Assim, tomei coragem para, às vezes, tirar o blusão, mas mantinha ela sempre com a gola alta.

Milena, “empacotada”.

Então a Milena começou a andar…e eu fui para a internet ler sobre os melhores calçados para essa fase. Como vocês podem ver cada detalhe é uma ciência… aprendi coisas bem interessantes e sobre as marcas mais recomendadas. Para nossa sorte, perto de casa havia uma loja de calçados infantis que vendia a marca Start-rite, a qual faz sapatos desde 1792 no Reino Unido! Foi um ótimo investimento (cerca de 20 libras)! Ela adorava ficar com seu sapatinho, que era bem quentinho, com um solado bem flexível e aderente. O segundo sapato que ela mais usou foi um tênis. Em seguida, no inverno, uma botinha forrada e, com a neve, compramos uma botinha especial, com solado grosso, de borracha no pé e de tecido impermeável e forrado no cano. Ótima.

Quanto comprar roupas aqui, acho que são relativamente mais baratas, de melhor qualidade e se encontra maior variedade do que no Brasil. Existem várias lojas com grandes departamentos de roupas infantis, são elas: JoJo Mamman (a da moça que me orientou pela primeira vez), Mothercare, Mamas & Papas, Next, M&S, John Lewis, Tu (no Sainsbury´s), George (no ASDA). Nas liquidações, se conseguem bons casacos, bem quentinhos e impermeáveis, entre 10 e 15 libras, para até os 2 anos de idade. Para crianças mais velhas é um pouco mais caro entre 20 e 30 libras. Os conjuntinhos de 3 a 5 bodies, são em torno de 5 a 7 libras. Tem uma infinidade de meias-calças para meninas, que eu adoro. Também acho as fantasias de boa qualidade e acessíveis, em torno de 15 libras. Camisetinhas e leggings por volta de 3 a 5 libras cada.

No momento, estou curtindo fazer as combinações e dando o estilo para a pessoinha. Agora, no verão, ela finalmente está usando só camiseta e legging… mas sempre tenho um casaco e uma touca na mochila!

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Sendo mãe de criança pequena na Escócia – Parte 2: Como planejar a alimentação de uma criança pequena em outro país?

  1. Loiva Luiza Pozzer

    Dra. Silvia querida! Que alegria ler teu post!! Adorei! Quanto a roupas, aqui na Alemanha não é muito diferente, passei por isso com minha netinha. No inverno, para leva-la para creche, era roupa de neve (mesmo quando não estava nevando), pq são leves e protegem muito bem contra o frio. Tem tb. opção de macacão com luva e touca, coloca tb uma bota de neve que veda bem na perna e tá pronta pra encarar esse friozinho europeu. Lembrando que sempre é necessário uma touca mais justinha por baixo da touca do casaco e um cachecol bem confortável. Por baixo desse aparato, sempre colocamos roupas leves de inverno, nada de muita lã, pq todos ambientes tem calefação, então essa roupa de cima é só pra andar na rua.

    • Silvia

      Oi Loiva!!! Para a gente que vem de um país tropical é uma adaptação né? Depois a gente aprende a escolher melhor as roupinhas… kkk… mas mesmo assim, para sair de casa é uma meia hora pra colocar tudo…. kkkk…. Beijão! Saudades!

  2. Daniela Bohrer

    Silvia querida. Quase 30 anos não conversamos. Mas vejo que cresceu e amadureceu com a mesma simplicidade, doçura e responsabilidade que tinhas aos sete anos. Que orgulho de ti. Que filha linda! Sou a fã número 01 dos teus textos. Minha Isadora chega em Janeiro e com certeza tenho muito que aprender. Um grande beijo

    • Silvia

      Daniiiiii!!!!! Tu estás grávida!!!! Que lindo!! É uma fase nova que se inicia!!! Obrigada pelos comentários, fiquei emocionada (a maternidade me deixou ainda mais chorona….kkk). Vou fazer mais outros posts sobre ser mãe aqui na Escócia, mas que também valem para todas as mamães!! Que a Isadora seja bem vinda!!! Beijão!!!

  3. dora carroll

    oi tudo bem! encontrei teu blog atraves de uma colega. Gostaria de saber, se voce conhece alguma mae brasileira ai que tem filhos com special needs. Desde ja agradeco.

    • Silvia

      Oi Dora!!! Que bom que me encontraste! Conheço várias mamães brasileiras aqui, mas nenhuma que o filho tenha necessidades especiais. O que eu posso te dizer é que observei um maior número dessas crianças por aqui. Confesso que não sei se é porque a acessibilidade é melhor ou se as pessoas enfrentam essa situação de maneira mais positiva ou se elas de fato são em maior número. Se quiseres posso pesquisar para ti! Beijos

  4. Cenira Araujo

    Bom dia.
    Meu nome é Cenira e gostei muito de seu post. Obrigada por ajudar as mães que estão em dúvidas, como eu…
    Então… Eu e meu esposo temos uma filha de 3 anos. Este ano (2016-2017), passamos o reveillon na Europa, em Paris. Depois, fomos para Bélgica e, em seguida, Alemanha. Gostamos muito da experiência.
    Num ato de impulso, comprei uma passagem na promoção para passar o reveillon novamente na Europa. Mas, desta vez, queria arriscar a Escócia, porque me falaram que a festa de final de ano em Edimburgo é muito bacana. Gostaria de saber, por favor, se você acha que uma criança de 3 anos pode aproveitar o inverno escocês. Minha filha é super tranquila, quando não curte o passeio, entra no carrinho e dorme. Mas tenho receio de exagerar, porque imagino que o inverno escocês deva ser um pouco mais rigoroso.
    Desde já, agradeço… Abraços
    Desde já, agradeço.

    • Silvia

      Oi Cenira!!! Obrigada por comentar!!!
      Olha só…. amo a Escócia e agora já estamos adaptados. Ano passado assistimos o Réveillon em Stonehaven com a Milena mega agasalhada… mas mesmo assim foi um pouco estressante. Acho que nessa época do ano as crianças não aproveitam muito aqui na Escócia: é muito escuro (dias curtos), além do frio e da chuva… Eu te sugeriria um país mais para o Sul da Europa… minha opinião! De qualquer maneira a Europa é realmente linda no Natal!!! Beijos… depois me conta pra onde vocês foram!!

      • Cenira Araujo

        Muito obrigada por responder é tão rapidamente… Vamos deixar a Escócia para uma próxima oportunidade, então. Mas continua na lista de desejos, rs. Abraços!

  5. Ana Laura

    Oi Silvia, boa tarde. Que bom encontrar seu blog! Que alento traz ao coração. Estamos nos preparando para uma possível mudança para Edimburgo. Temos dois meninos, um de 1 ano e 9 meses e outro de 4 anos e 9 meses. Minhas preocupações estão todas por aqui, no seu blog! rs Muita coisa pra levar em consideração, ao mudarmos com duas crianças para um país frio. Obrigada por compartilhar tanta experiencia! =)

    • Silvia

      Oi Ana! Fico tão feliz em saber que as minhas informações ajudam alguém! Pois quando eu cheguei em Aberdeen, precisei muito e é isso que tento retribuir. Fique forte, tudo vai dar certo! Eu amo a Escócia e será maravilhoso para os seus filhos! Já estou de volta no Brasil e sinto muuuuuuita falta! Não passa um dia sem eu pensar nos meus dias neste país! Qualquer coisa que precisar, é só chamar!

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